Mais um tipo de género
A categorização é um instrumento importante para a socialização. Agrupar e catalogar é essencial numa primeira fase de contacto com pessoas ou coisas. O facto de a etiqueta aplicada poder inviabilizar uma segunda fase de contacto representa, só por si, uma vantajosa poupança de tempo e aborrecimentos.
A boa arte de categorizar pressupõe o recurso, ainda que momentâneo, a um espírito arbitrário, com alguma dose de preconceitos saudáveis e desprovido de qualquer sensibilidade ou compreensão pelo drama humano. É um regresso à infância.
A mais divertida é a categorização complexa. Pessoas ou coisas que proporcionam uma arrumação em diferentes grupos através do recurso ao hífen, ou seja, coisas ou pessoas que se situam na intersecção de vários conjuntos. Surpreendente é depararmo-nos com casos que apresentam características de grupos dificilmente intersectáveis.
Chamada a pronunciar-me sobre uma certa escrita (ou escriba?), e após alguma hesitação, classifiquei-a de pedante-ordinária. A escrita apenas pedante expurga o discurso de qualquer densidade intelectual e deixa-lhe o marcado tom pretensioso. A escrita sobretudo ordinária retira graça e linearidade à mensagem obscena retendo-lhe toda a vulgaridade. A mistura das duas tem zero em conteúdo e vinte em agressividade. A exposição aos textos, mesmo que motivada por elevados propósitos científicos, pode causar indisposição.