Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Ilusões

A Karma acredita que o nosso blogue é um jornal nacional de grande tiragem e, aliás, deve ser por isso que não escreve aqui. Noutro dia disse-me que nunca mais podíamos ir ao Brusketta “depois do que tu escreveste”. Voltámos lá para levantar a encomenda de take-away (que aquilo do chá ainda nos está atravessado) e mostrou-se relutante em sair do carro e entrar no restaurante.

Isto de ilusões há para todos os gostos, e a minha era a de que conheço todos os que nos lêem. Ou que, pelo menos, conheço quem conheça alguém que conhece. Que tenho referências. Mas não é verdade.

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

[«Sylvia's Mother», Dr. Hook]

Sylvia's mother says "Sylvia's busy
Too busy to come to the phone"
Sylvia's mother says "Sylvia's trying
To start a new life of her own"
Sylvia's mother says "Sylvia's happy
So why don't you leave her alone?"

And the operator says "forty cents more for the next three minutes"
Please Mrs. Avery, I just gotta talk to her
I'll only keep her a while
Please Mrs. Avery, I just wanna tell her goodbye

Sylvia's mother says "Sylvia's packing
She's gonna be leaving today"
Sylvia's mother says "Sylvia's marrying
A fellow down Galveston way"
Sylvia's mother says "Please don't say nothing
To make her start crying and stay"

And the operator says "forty cents more for the next three minutes"
Please Mrs. Avery, I just gotta talk to her
I'll only keep her a while
Please Mrs. Avery, I just wanna tell her goodbye

Sylvia's mother says "Sylvia's hurrying
She's catching the nine o'clock train"
Sylvia's mother says "Take your umbrella
Cause Sylvie, it's starting to rain"
And Sylvia's mother says "Thank you for calling
And, Sir, won't you call back again?"

Aqui fica uma versão bera e sibilante, ou seja, igual àquela que eu ouvia vezes sem conta em casa da avó, aos 10, 11, 12 anos, numa cassete pirata gravada pelo pai. Também tinha esta (descubro agora que é do Bob Dylan) e o «Wild World» do Cat Stevens, mais uns tangos malucos com tiroteios, entre outras. Os dias de Agosto eram ocupados com os carreiros da rega, as escondidas nas "tendas" de feijão verde, as aventuras no rio quase seco, as comédias românticas de cordel e esta cassete. Não fazia ideia que isto era o que estava por trás desta canção lamechas.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

É um menino

Talvez não Jesus, mas Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.

domingo, 24 de dezembro de 2006

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Há dias, fui visitar um grande amigo do meu pai ao hospital. Estava lá internado por ter tido um acidente vascular cerebral, salvo da morte pela perspicácia de um colega de trabalho.

Este senhor tem cinquenta e muitos anos e vive completamente sozinho há muito tempo. O pai dele morreu cedo e a mãe e a irmã há uns anos. Nunca casou e não tem filhos.

Apesar de o conhecer e conviver com ele desde sempre, só me apercebi do seu grau de desamparo quando me deparei com ele, deitado numa cama, com a barba por fazer e as lágrimas a escorrem-lhe calmamente pela face.

De repente, percebi que em vez de uma conversa de circunstância, ele precisava de ser tocado.

Ignorei a vergonha e o preconceito e dei-lhe o meu melhor abraço, longo, apertado, amigo que ele agradeceu e retribuiu. E, enquanto discutíamos as incertezas do seu futuro, tive uma série de tempo a mão dele presa na minha.

Depois de o deixar, fiquei um bom bocado parada, incapaz de aceitar a dimensão da solidão dele e de como a total e reiterada ausência de contacto físico o fazia sentir-se menos humano que os outros.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Ela por elas

- Voltando ao..., voltando...
- ...à vaca fria.
- Literalmente!

Coisa boa

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Someone new (3)

Perplexa e insegura em relação a certas atitudes, resolvi conferenciar com as minhas duas irmãs sobre o assunto.

Passados uns minutos, aquelas meninas já tinham dado cabo da pessoa em causa. Fizeram-me o favor de me contar não sei quantas histórias sobre sacanices masculinas, recheadas de pormenores revoltantes. Fiquei de rastos e contagiada por aquela versão maquiavélica dos factos, que não é de todo a minha.

De facto, eu acredito nas pessoas. Tenho uma visão optimista do outro. Apresento-me de peito aberto, não contemplando à partida, a hipótese de me estarem a enganar.

Normalmente, não me dou mal. Será que tenho andado fora do mundo?

De férias

Escolares, entenda-se.

sábado, 16 de dezembro de 2006

“Provavelmente, não vai acontecer nunca mais, era só fumo e espelhos.”

Christy Turlington, ainda em recuperação, quando questionada sobre se voltaria a ler o Estado Civil, e revelando alguma desconsideração pelos efeitos especiais feitos de um pouco de medo e um pouco de sexo (mais informações na revista NS de hoje).

Ser sozinha

Antes de partirmos, na altura de distribuir os bolos que cada um trazia de casa da avó, um dos primos casado-com-filhos olhou escandalizado para a minha torta de chocolate e exclamou: “Mas tu és sozinha!”.

Num primeiro momento, pareceu-me um insulto. Depois, pelo contrário, achei que me estava a dizer que as agruras da vida de família eram compensadas nestes momentos de divisão de víveres de qualidade superior. E que era uma injustiça dar uma torta inteirinha a quem leva uma vida fácil.

Claro que, para os primos de páscoas a natais, sozinho é quem sozinho aparece em casa da avó. Sem prejuízo destes detalhes, existe um estigma que raramente consigo pôr ao meu serviço. Se alego que sou sozinha para inspirar compaixão (e arranjar ajuda nas tarefas pesadas), logo me falam da sorte que tenho. Se opto por me gabar da liberdade de movimentos, de imediato inspiro toda a pena do mundo.

Mas aquilo que mais me intrigou na expressão do meu primo foi isto: quando é que “estar sozinha” passou a “ser sozinha”?

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

O que é que as mulheres querem?

Querem que os homens adivinhem. Se disserem, não vale. Está aqui.

Tu percebes isto?

"You go your way / I'll go your way too." [Leonard Cohen]

Foi assim que terminou um fabuloso momento televisivo. Reproduzo de cor: O que é que as mulheres querem? Miguel Esteves Cardoso explica que as mulheres não dizem o que querem. Não sabe porquê. Põe a hipótese de ser por não saberem o que querem mas admite que possa ser por outra razão qualquer. Ainda assim, congratula-se, de 20 em 20 anos há uma ou outra que se descai. Foi o caso da sua mulher que, ao ouvir este pequeno poema de Leonard Cohen, não se conteve: “isto é exactamente o que uma mulher quer!”.

Mas pensam que esta revelação constitui alguma ajuda para o marido? Não. Miguel Esteves Cardoso remata: “Segue o teu caminho e eu sigo o teu caminho também. Tu percebes isto?”.

Vida de mãe - epsiódio 40

Será que é só o meu filho que, antes da mãe lhe limpar os ouvidos, faz questão de escolher a cor dos cotonetes?

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

tesoura pedra papel

Ideal romântico

Um homem que pede para me ouvir cantar.

[E isto acontece mesmo, não é só nos filmes. Eu conheço um caso.]

Someone new (cont.)

As histórias de amor que envolvem pessoas da nossa idade (ou mais) nunca são simples.

Existem passados consolidados, por vezes pontas soltas presentes, experiências antigas que nos condicionam a espontaneidade e um certo medo de voltar a falhar.

Mas não deixam de ser, por isso, histórias de amor. Assim sendo, julgo que temos de dar intervalos à racionalidade, aos anseios e ao futuro, e gozar os momentos simplesmente muito bons.

domingo, 10 de dezembro de 2006

I remember that (3)

A explicação para uma boa memória pode estar numa existência carregada de medo e stress.

    The story begins with some surprising discoveries about memory. It turns out our memories are sort of like jello – they take time to solidify in our brains. And while they're setting, it's possible to make them stronger or weaker. It all depends on the stress hormone adrenaline. [daqui]

E quanto maior for a dose de adrenalina segregada durante e após o fatídico evento, mais detalhada e profundamente os factos e as emoções associadas ficarão gravados na memória.

Esta constatação está a ser aproveitada para desenvolver uma medicação que propicie o esquecimento de acontecimentos traumáticos. A ficção de “Eternal Sunshine of the Spotless Mind” chega à vida real através do propranolol, um químico que inibe a actuação da adrenalina. O resultado não é o total esquecimento dos factos em si, mas sobretudo do trauma emocional inerente. A memória dos acontecimentos esbate-se e deixa de suscitar quaisquer medos, angústias ou constrangimentos no dia-a-dia; como se tivessem acontecido a outra pessoa.

Estava eu ocupada com a apologia da memória sem perceber que se trata de uma capacidade inversamente proporcional à paz de espírito. O que está a dar é esquecer.

sábado, 9 de dezembro de 2006

Shut up!

Já insistiram comigo para que falasse*. Caramba, até já gritaram comigo para que falasse (pessoas que gritam, pff). Mas nunca, fora das aulas do liceu, me mandaram calar. Agora, quase me consigo ouvir a falar demais. O que não seria nada mau.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Paper covers rock

Parecemos entretidos com aquele jogo do papel, pedra ou tesoura. Ele arrasa: recorre sem cuidado a armas de destruição massiva. Não sobra nem tesoura, nem pedra, nem papel. Sobro eu para o embrulhar.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Indispensáveis # 11

Gosto muito de (certos e determinados) relógios embora lhes dê pouco uso. Este tem dois anos. É lindo, mas só sai à rua de vez em quando. Hoje, por exemplo.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Sobretudo no aniversário

Some of the time the future comes right 'round to haunt me
Some of the time the future comes 'round just to see
That all is as it could be
And it's there to remind me
We've got to wait and see
We've got to let it be - yeah
Wait and see, wait and see

[de «Conceived», Beth Orton]

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Cartas de amor (2)

Cartas de amor

«Quem ama verdadeiramente não escreve cartas que parecem requerimentos de advogado. O amor não estuda tanto as cousas, nem trata os outros como réus que é preciso "entalar". »

Fernando Pessoa desmonta toda a minha estratégia amorosa. Diz que não é amor. Fernando Pessoa está enganado.

Completely messed up

A mensagem dos deuses não podia ter sido mais desconcertante.

Não sei o que fazer. Mesmo que eu decida reabrir a porta, tal como no passado, esta hipótese de futuro não depende só de mim.

E se eu me marimbar para as indicações do além e continuar com a minha vida? É que foi tudo tão difícil...