Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Indispensáveis (em retrospectiva)


O Pernalonga e eu a la Calvin & Hobbes

Pernalonga era o nome dado ao Bugs Bunny, numa altura em que importávamos do Brasil os comics e a terminologia com eles relacionada. Claro que qualquer semelhança fisionómica entre o meu Pernalonga e o Bugs Bunny é pura coincidência, apesar dos esforços notados quanto à dentição do boneco. Mas isto era também um tempo em que ainda não havia merchandising como deve ser.

Tudo é uma citação

Ao Dan, por ocasião do nascimento do seu vigésimo quarto blogue:
A expressão “everything is a situation” é de George Carlin no fantástico Airline Announcements. A frase “temos aqui uma situação” e a cara a condizer, são da autoria de Vanusa (nome real), secretária temporária, que não consta que fosse fã do Tarantino.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Tudo é uma situação

Como por exemplo ir à Feira do Livro e detectar uma gralha na capa de um livro recém-editado. Na capa mesmo. Em concreto, o erro incide sobre o nome de um dos autores. Dezenas de livros alinhados com um erro na capa. A estupefacção das senhoras do stand seguida daquela cara apreensiva de “temos aqui uma situação”.

[com a participação especial do livro «Andar Feliz em Lisboa» de Francisco Ribeiro Soares, José Pedro Barreto e Nuno Markl (ilustrações)]

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Falar caro - V

Uma faca de dois legumes.

Falar caro - IV

Tirar nabos da peruca.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Nunca me canso

No sábado à noite, fui ver e ouvir o Sérgio Godinho ao Teatro Maria Matos, com a minha mãe. É a terceira vez que assistimos juntas a um concerto dele. A primeira delas foi, seguramente há mais de quinze anos, em Paris.

O espectáculo foi muito bom. Ele não só cantou alguns temas de sempre, como também apresentou o seu novo disco Ligação Directa, acompanhado de uns músicos excelentes que conseguiram reinventar a sua sonoridade e estilo com sucesso.

Este cantor não sabe mas é meu parente. Visito-o pouco mas sempre que tenho essa oportunidade, o nosso encontro provoca-me uma sensação de identidade, de conforto e de ternura, até.

Já agora, deixo aqui a letra fabulosa de uma canção antiga que me agradou imenso voltar a ouvir:

Não sei de imagem
que o tempo não destrua
não sei de ti
se atravessas a rua
vem ter comigo
sempre que for preciso
fala com a voz
fala com o choro
fala com o riso
diz o que é preciso

Viva quem vive
com a cabeça aperrada
e dispara bala
contra o medo apontado
viva quem luta
com a cabeça ao contrário
p´ra ver também um pouco do lado do adversário
do lado contrário

E viva o dia
em que já não precisas
de reis nem gurus
nem frases-chave nem divisas
o dia
em que já não precisas
de reis nem papás
nem profetas nem profetisas
Ei,ei que é do rei
o rei foi-se, o rei vai nu
ei, ei, viva eu, viva tu

Não sei de imagem
que o amor não persiga
não sei de ti
se não fores minha amiga
faz o que queres
que se queres é preciso
faz o melhor
fá-lo com loucura
e com juízo
faz o que é preciso

Viva quem muda
sem ter medo do escuro
o desconhecido
é o irmão do futuro
viva quem ama
com o coração aos saltos
e mesmo assim vence
os seus altos e baixos
e os altos dos seus sobressaltos

E viva o dia
em que já não precisas
de reis nem gurus
nem frases-chave nem divisas
o dia
em que já não precisas
de reis nem papás
nem profetas nem profetisas

Ei, ei que é do rei
o rei foi-se, o rei vai nu
ei, ei, viva eu, viva tu

segunda-feira, 21 de maio de 2007

I think you’re amazing

Primeiro: estivemos lá e bem à frente. Seja qual for a hora de chegada ao recinto, a Meg consegue sempre posicionar-nos a cerca de três metros do palco e ainda ficar de bem com todos os que atropelamos para lá chegar (os amigos espanhóis estavam fascinados com a sua perseverança). Segundo: ta-ra-ra, ta-ra-ra, ta-ra-ra-ra-ra, ta-ra-ra, ta-ra-ta, ta-ra-ra-ra-ra...

sábado, 19 de maio de 2007

O congresso - parte 3

De regresso a Lisboa, na tentativa de encontrar o telemóvel perdido na mala, constatei que me tinha esquecido de devolver à recepção do hotel, o cartão que funciona como chave do quarto.

Achei graça ao lapso e voltei a olhar para aquele bocado de plástico.

Nele, estava escrita uma frase que primeiro me pareceu uma qualquer lenga-lenga publicitária mas que afinal se tratava da seguinte citação de Flora Whittemore: "The doors we open and close each day decide the lives we live."

O congresso - parte 2

Após uma manhã de palestras, o almoço de sexta foi um pouco cansativo.

Rodeada por profissionais da mesma área - gente simpática mas em relação a quem não sinto grande afinidade - só se falou de trabalho e das angústias que o estado actual da profissão suscita.

Terminada a refeição, os trabalhos prosseguiram até ao final da tarde. Para a noite, estava programado um jantar nas caves Taylor, em relação ao qual, eu apenas esperava que a comida prestasse para alguma coisa e que o sítio não desmerecesse a fama que tem.

Contudo, contrariamente às minhas reduzidas expectativas, o serão proporcionou-me uma agradável e interessante conversa com o desconhecido que fez o favor de se sentar ao meu lado.

Ele não tinha nada a ver com o nosso filme, só lá estava a representar um dos patrocinadores do evento, o que permitiu que logo após as apresentações mútuas, fosse possível falar sobre tudo, menos aspectos técnicos relacionados com o meu dia-a-dia profissional.

Este encontro inesperado e oportuno foi definitivamente o bónus do meu fim-de-semana.

O congresso - parte 1

Na quinta-feira à tarde deixei a capital, as aulas e o meu filho para ir com a minha mãe ao Porto, participar num congresso relacionado com as funções que desempenhamos.

Em jeito de resumo, diria que a componente política foi feliz, a ciêntífica nem tanto, à excepção da contribuição dos colegas estrangeiros que se pronunciaram sobre algumas questões técnicas relacionadas com o âmbito europeu da nossa actividade.

Só houve uma intervenção verdadeiramente mediocre: a do membro do governo. Cínica, sem valor acrescentado e até, na minha maneira de ver, malcriada e prepotente.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Vida de estudante - episódio 1

Fui nervosíssima para o meu primeiro exame de Estatística.

Contra todas as minhas expectativas, a prova correu bastante bem, até ao momento em que, já depois de ter concluido o teste no computador, mas antes do professor o ter guardado na pen, coloquei inadvertidamente a mala em cima do teclado.

Sem saber como, eu e a minha mala tinhamos acabado de apagar o ficheiro! O professor ainda fez o que pôde para o encontrar mas não conseguiu. Eu olhei para ele, ele olhou para mim. Nada feito. Fui mesmo obrigada a repetir o exame, depois de muitas palavras de conforto dos meus colegas e do docente, estupefacto, me garantir nunca ter testemunhado semelhante fenómeno.

terça-feira, 8 de maio de 2007

One size fits all

O problema de ter sempre a mesma abordagem é idêntico ao do pronto-a-vestir: o corte repetido para toda a gente, não assenta bem a ninguém.

O quadro da discórdia


'Girl Dressed in Blue' (1641), Jan Cornelisz. Verspronck

Ganhou ele.

Não adianta ajustar a antena, a emissão dos meus posts está mesmo com um atraso de um mês.

Insulto

Sou dona de um carro um bocadinho especial.

A sua distinta chapa está decorada com umas quantas amolgadelas, fruto de diversos ataques insidiosos de condutores que obviamente não sabem o que andam a fazer na estrada.

Faltam-lhe algumas peças, como por exemplo, as suspensões, mas o meu mecânico acha que já não vale a pena gastar o meu dinheiro na sua substituição e vai remendando, no sentido literal do termo, o que pode.

De vez em quando, a porta do lado do condutor não abre, o que me obriga a fazer umas acrobacias com as pernas (que não são muito pequenas) para conseguir aceder ao meu lugar. E, como se não bastasse, o espelho retrovisor tem a mania de se descolar do vidro.

Em todo o caso, o meu automóvel nunca me deixou ficar mal e além disso tem estofos de cabedal, jantes especiais e um espectacular rádio com leitor de CD's.

Em suma, gosto muito dele e não estou a pensar trocá-lo, por razões emocionais, está claro.

Contudo, há pessoas que, pelos vistos, pensam de maneira diferente: hoje, alguém teve a lata de deixar um papel no pára-brisas do meu inimitável Ford Fiesta, onde se podia ler em letras garrafais, o seguinte impropério: "Compro carros com mais de dez anos. 934 101 551."

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Vida de mãe - episódio 44

O meu filho apanhou a doença do futebol.

Já está, não há nada a fazer. Portanto, agora, eu que ainda me encontrava em relativo período de nojo no que respeita a este desporto de que já gostei tanto (mais que o ténis), estou a ser obrigada pelo miúdo a voltar a vibrar com a bola.

Ontem à noite, não resisti ao seu pedido para ver o jogo do Liverpool - Chelsea e dei-lhe o banho a correr para nos conseguirmos instalar confortavelmente no sofá a horas. Ele, eu, o seu urso de estimação e o Bugs Bunny gigante que trouxemos de Madrid (somos todos do Benfica).

Depois do Liverpool ter marcado, o miúdo começou a ficar nervoso e quis virar a casaca: afinal, já não estava a torcer pela equipa do Mourinho. Eu expliquei-lhe que não se devia mudar de opinão, só para estar do lado de quem ganha e ele então disse: "Está bem. Eu quero que o Chelsea ganhe por causa do Lampard e do Drogba".

Passado pouco tempo, perguntou-me, em tom de desafio: "Sabes como é que se chama o guarda-redes do Chelsea?" Tive de lhe responder que não. Ele olhou para mim com um ar meio desiludido, e replicou: "Então não sabes? És maior que eu e não sabes? É o Petr Cech".

Fiquei parva. Para além dos nomes dos principais jogadores dos três grandes clubes nacionais, ele também já sabe estes.

Entretanto, o tempo foi passando e tendo em conta que as duas equipas não despacharam a partida em noventa minutos e que a minha criança ainda não tem cinco anos, tive de a mandar para a cama, antes do jogo acabar.

Ele lá foi, um bocado contrariado e não sem antes me pedir para eu o avisar quando fosse marcado um golo.

Claro que na altura dos penalties, ele já dormia um sono solto e eu tinha conseguido, à conta dos gestos que fiz e dos saltos que dei, deitar abaixo o quadro pendurado em cima do sofá.