Publicidade repelente
O anúncio do Banif com aquele centauro tipo aftershave inenarrável e o anúncio aos ténis Puma dos futebolistas com pernas de gafanhoto gigante.
The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]
O anúncio do Banif com aquele centauro tipo aftershave inenarrável e o anúncio aos ténis Puma dos futebolistas com pernas de gafanhoto gigante.
Em frente ao ecrã onde passava um concerto de Andrea Boccelli:
Bela fumarada que para aqui vai
- Esta quem é?
- Parece a Sarah Brightman.
- É uma deste género de...
- É uma paralírica, sim.
Há personagens com intervenções breves mas relevantíssimas.
- Aquilo deve passar-se nos anos oitenta, não achas?
- Mãe, um dos personagens principais é o iPod...
O post ali em baixo com a foto daquele aviso fantástico “Flash Flood Area” foi inspirado pelo filme «Into The Wild». Gostei bastante deste aviso, que aparece em escassos fotogramas, e do filme também.
A existência de um aviso deste tipo foi uma surpresa para mim. Descobri (na passada 6ª, mesmo a tempo do temporal da madrugada de dia 18) que existem áreas sujeitas a cheias repentinas quanto às quais não haverá nada a fazer senão colocar um sinal de trânsito para avisar. Recomendo, então, que se coloque um sinal de “Zona de Cheias Relâmpago” na rua do meu pai.
Quanto ao filme, estava à espera de gostar das vistas (tenciono ir ao Alasca logo que lá faça menos frio) mas pensei que tentaria doutrinar o espectador sobre as vantagens da intensa e isolada comunhão com a natureza e a purificação pelo regresso às origens e os malefícios do desenvolvimento industrial e assim. Eu gosto da natureza, gosto de assistir à natureza, mas não prescindo de instalações sanitárias bem equipadas e não considero necessária uma estada solitária no deserto para atingir o nirvana; chega-me perfeitamente uma massagem no SPA do Ritz ou dar dois berros a alguém.
Pois este filme, a meu ver, retrata de uma forma bem realista o despropósito do abraço que este “super vagabundo” (supertramp em inglês, nunca me tinha ocorrido) de 23 anos quis dar ao lado selvagem da mãe natureza, e que foi correspondido com o abraço selvagem que o mata. Tal e qual como se as provas que ele vai cumprindo ao longo da história não fossem mais do que tentativas de suicídio falhadas e inconsequentes, porque nada o demove de se isolar e arriscar cada vez mais, até ao sucesso final.
[Sobre «The Darjeeling Limited»:]
Mãe - Como é que sabes que as malas são Louis Vuitton?
Eu - Vi-as há imenso tempo numa revista e tomei nota mental para o caso de um futuro muito endinheirado. Mas agora ficaram demasiado vistas.
Comecei a namorá-lo no ano em que entrei para a faculdade.
Na altura, ele personificava o meu conceito de príncipe encantado. Sempre muito atencioso e disponível, preocupado em agradar-me. Um tanto ou quanto possessivo, só o suficiente para eu me sentir desejada e importante.
Era um bocado mais velho que eu e já não tinha aqueles comportamentos adolescentes e desesperantes, característicos do estroina que o tinha precedido (e que viria também, ironicamente, a suceder-lhe).
Lembro-me, entre outras coisas, de ele me ter ensinado a guiar. Da especial delicadeza da sua mãe e do tempo que passávamos com uma das suas sobrinhas, a M., que na altura tinha oito ou nove anos, e que agora, segundo ele, está a acabar o curso de Medicina.
Recordo ainda um fim de ano passado a dois em S. Martinho do Porto, umas férias de Verão na Balaia e, em geral, a agradável ausência de conflito.
O meu pai embirrava com ele pelo facto de não lhe prestar a devida vassalagem e penso que a minha mãe e as minhas irmãs, o achavam simpático mas demasiado calado.
Decorrido um ano, o rapaz resolveu abordar o tema do casamento e eu tive de assumir que não estava apaixonada. A separação foi difícil (quase todas são) e os meus sentimentos de culpa, gigantes.
Na terça-feira passada, encontrei um ex-namorado que não via há uma série de tempo.
Pareceu-me ter ficado atrapalhado com a minha presença. Eu fingi não reparar no desconforto e iniciei a conversa de circunstância com um sorriso genuinamente desempoeirado.
Contudo, apesar do meu esforço, o rapaz, já entrado nos quarenta, manifestava um nervoso miúdinho, que revelava ainda não ter conseguido dar cabo de uma certa ansiedade social que o caracterizava.
Estava demasiado igual ao que era dantes (à excepção da barriga que agora é proeminente).
Claro que não me apresentou a mulher que o acompanhava, tendo ela, em resultado daquela passividade constrangedora, resolvido afastar-se. Com este ambiente pouco propício a delongas, eu já me preparava para bater em retirada quando ele, inesperadamente, disparou "Continuas casada?"
Tive de fazer um esforço para não me rir com aquela pergunta, feita demasiado depressa e fora de tom.
Depois da troca de duas ou três informações adicionais bastante mais inócuas que aquela, despedimo-nos. Ele foi procurar a desertora e eu fui comentar a cena com a Sam que só tinha assistido às deixas finais.
Chegada a casa, deitei-me no sofá da minha sala, perplexa com o facto daquele homem não me suscitar, hoje, a mais pequena empatia.
Enfim, é certo que passaram muitos anos desde então, mais de quinze. Mas também é verdade que há certas pessoas que o tempo não vence, que permanecem em nós, eternas.
Pelos vistos, ele não.
Ultimamente tenho ouvido falar muito de escolas infantis e fiquei a saber que aquela onde andei está na moda. Mas na escola infantil o importante eram as pessoas e essas calculo que, passados 25 anos, não sejam as mesmas. A Marília, a Ana, a tante Nora, a Cuca (ainda não falei na Cuca) e o Senhor Oliveira:
Fiz a primária num colégio chamado Jardim Infantil Luso-Suíço; o mais parecido com mandar as filhas estudar para a Suíça que os meus pais arranjaram. Ia para a escola na carrinha do Sr. Oliveira que tinha como "hospedeira" a D. Arlete (a quem todos nós chamávamos de "Dona Arrelete", sabíamos lá dizer Arlete. Ainda hoje não sei se é assim que se escreve, deve ser francês).
O Sr. Oliveira gostava de mim, apesar de eu ser uma terrorista, e convidava-me a sentar à frente, ao pé dele. Eu assim fazia, quase sempre, porque era uma grande distinção. O Sr. Oliveira também tinha a particularidade de, quando a viagem ia adiantada em relação aos horários impostos, parar no jardim em frente ao cemitério dos Prazeres e deixar-nos ir brincar por uns 20 minutos, sob a vigilância dele e da D. Arlete. Ele não queria ser, nem era, só o motorista da carrinha. A carrinha do Sr. Vieira nunca teve metade da piada.
Esta cadeia lindíssima, enviada pela Charlotte, convida-me a indicar doze palavras preferidas.
Aqui vai:
Muito, 1 adv. em grande quantidade, com intensidade, em excesso; 2 pron. indef. em grande número ou em abundância; 3 s. m. grande porção (por oposição a pouco).
Tudo, pron. indef. a totalidade das pessoas ou coisas de que se trata, o essencial, o indispensável; dar ~ por, para desejar fortemente algo; eis ~ não há mais nada a dizer; em ~ e por ~ em todas as circunstâncias; estar por ~ transigir com a opinião ou desejos dos outros, aguardar e arrostar com as consequências; mais que ~ principalmente; ser ~ ser a pessoa ou coisa principal; ser ~ um ser a mesma coisa.
Depois, adv. em seguida, posteriormente, mais tarde, mais além, em lugar secundário ou inferior; ~ de atrás de (no tempo ou no espaço); ~ que logo que, assim que, mal.
Junto, 1 adj. unido, ligado, reunido, acumulado, próximo, chegado; 2 adv. juntamente, ao pé, ao lado, ~ de ao lado de, perto de.
Agora, adv. nesta hora; presentemente, hoje em dia, ora.
Ruído, s. m. som inarmónico produzido por corpo que cai ou estala; estrondo; fragor; rumor; LINGUISTICA todo o factor que, num acto comunicativo, perturba a transmissão da mensagem; [fig.] fama; boato; pompa; estardalhaço; [fig.] fazer ~ causar sensação, dar que falar.
Janela, 1 s. f. abertura na parede de um edifício, acima do pavimento, para deixar entrar o ar e a luz; abertura que serve para ver; caixilho móvel, envidraçado, que serve para tapar a abertura da parede (janela); abertura; fresta; rasgão; buraco; INFORMÁTICA [neol.] parte de um ecrã do computador, geralmente de forma rectangular, destinada a mostrar uma aplicação ou ficheiro (ing. Window); 2 s. f. pl. os olhos.
Onda, irra são 25 linha no dicionário, também faz lembrar e gosto muito de Duna, s. f. acumulação ou monte de areia nas regiões desérticas e nas regiões litorais, sob a acção do vento de direcção quase constante, e que, por vezes, alcança (no deserto) alturas de 400 m.
Eufemismo, s. m. figura de estilo com que se disfarçam ideias desagradáveis por meio de expressões suaves (e vem do grego).
Dez, 1 num. card duas vezes cinco; uma dezena; 2 s. m. que ou o que ocupa o décimo lugar; o grupo de algarismos que representa dez.
Redundância, s. f. qualidade do que é redundante; superabundância de palavras; prolixidade; pleonasmo; LINGUÍSTICA reiteração de elementos numa mensagem com o objectivo de assegurar e facilitar a sua inteligibilidade.
Embora, 1 conj. ainda que, não obstante, se bem que, conquanto; 2 adv. retirar-se, despedir-se; em boa hora, afortunadamente (sentido etimológico); indica despedida, retirada: vamos embora!; 3 s. m. pl. felicitações, parabéns; 4 interj. seja!, não importa! (contr. de em boa hora).
Estendo o convite ao Pedro (uma boa oportunidade para referir aquela palavra começada por x), ao Dan (é capaz de estar em Berlim) e à free speaker.
Sedução, Conspiração - de Ang Lee
Há um emocionante despique com recurso a armas de sedução massiva. O sexo começa por ser a primeira arma dele, que “como uma cobra chega-lhe ao coração”. Ela contra-ataca com a dose extra de doçura e submissão que consta deste vídeo. Ele responde com um diamante rosado de seis quilates e arruma a disputa. Vantagem de lá.
Comprei o «Funeral» dos Arcade Fire para oferecer ao meu primo André que, por sua vez, comprou o «Neon Bilble» dos Arcade Fire para me oferecer.
Ele abriu primeiro o presente dele, ficou a olhar para mim com um ar surpreendido e disse “vais achar graça ao teu”. Eu desembrulhei o meu disco e ele continuou “conheces?”. Respondi a verdade: que não, que estava a conhecer, que conhecia uma ou outra música (pronto, talvez tenha exagerado) mas, por aquilo que tinha ouvido dizer, achei que era ideal para ele. E o meu primo, ainda mais surpreendido, rematou “Exactamente como eu!”.
Não sei se algum de nós vai gostar dos respectivos discos. Para começar, ainda não o ouvi. Estou muito ciente dos critérios que me levaram a oferecer aquele cd.
What five letters spell "apocalypse", she asked me
I won her over saying (ou singing) "W-W-I-I-I"
[De «The Temptation Of Adam», Josh Ritter: This is a song about wondering what situation you’d have to be in to get a girlfriend. É que entretanto comprei o disco «The Historical Conquests Of Josh Ritter» e o rapaz tem sentido de humor. O disco é bastante bom. Calculo que as pessoas que percebem destas coisas já tenham reparado no Josh Ritter mas eu ainda não tinha. A maioria dos cds, quando os ouvimos pela primeira vez, parece-nos que estamos sempre a ouvir a mesma música, uma música de 50 minutos. Só ao fim de algumas audições é que começamos a distingui-las. Pois este disco não é assim, ouve-se como se fosse uma colectânea em que nem o artista, nem o género musical, representam qualquer fio condutor. As músicas são todas escritas e interpretadas por Josh Ritter mas o homem tem dez vozes diferentes. A primeira, «To The Dogs Or Whoever», aqui na cave do Juan, parece do Bob Dylan e o «Next To The Last Romantic» parece do Johnny Cash, embora sem a voz do Johnny Cash. E assim concluo. Tenho que deixar de escrever posts dentro de parêntesis, é ridículo].
Conforme previsto.
You Are Paper |
Crafty and creative, you are able to adapt freely to almost any situation. People tend to underestimate you, unless they've truly seen what you are capable of. Deep down, you're always scheming and thinking up new plans. Your mind is constantly active. You are quite capable of anything you dream of. You can always figure out a way to get what you want. |
I said I wish you never knew
how I feel for you
It's hard to be just friends now after all
I said I wanted more
he said how can you be so sure
I'm not sure I'm faithful after all
[de «He Keeps Me Alive», Sally Shapiro. O título da música é uma ilusão mas é sempre com uma boa dose de ilusão que se entra num autocarro que não vai a lado nenhum. O nome adequado para esta música seria «Just Friends».]
Por enquanto, agradou-me o sorriso, o discurso directo e a aparente disponibilidade. A ver vamos.
Em prol da defesa dos direitos dos trabalhadores, penso que será de reivindicar a implementação de uma “licença de apaixonado” e de uma “baixa de desgostado”, pelo período mínimo de um mês para cada uma, renovável por indicação de uma junta de amigos e/ou familiares. Tendo em conta o meu caso concreto, admito uma limitação legal que imponha alguma carência temporal quanto ao gozo destes direitos.
Copiei este primeiro parágrafo de um email que enviei a uma amiga aqui há uns tempos, quando andava com esta ideia e a expunha a quem me ouvisse, ainda que, voltando ao meu caso concreto, não seja beneficiária de quaisquer baixas ou licenças concedidas a trabalhadores dependentes. No fundo, a ideia era obter um tratamento especial no trabalho durante estes períodos, como se tivesse 40º de febre.
O que não deixa de me surpreender é verificar que tudo aquilo de que nos consigamos lembrar, por mais fantasioso que nos pareça, pode tornar-se real.
Japanese firm offers "heartache leave" for staff
Staff aged 24 years or younger can take one day off per year, while those between 25 and 29 can take two days off and those older can take three days off, the company said.
"Women in their 20s can find their next love quickly, but it's tougher for women in their 30s, and their break-ups tend to be more serious," Hiradate said. [daqui]
É verdade que "aconteceu no Japão" é o grau mais próximo da pura ficção, logo a seguir a "li na internet", ainda mais neste caso, sabendo-se que é um país bem sovina no que toca a férias pagas.
Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho
Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais
Vinícius de Moraes. Ontem, assisti com a minha mãe a um programa sobre a vida deste poeta. Adormeci embalada pela sua genialidade e acordei com uma vontade enorme de o voltar a ler e ouvir.
Após longa pesquisa palpita-me que, apesar do palmo de cara, deve ser estreito e baixo. Mas, voltando ao princípio, tem umas boas músicas [Kathleen].
1. "Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do "outro"; o sexo, no mínimo precisa de uma "mãozinha". Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até mais sozinhos, na solidão e na loucura. Sexo, não - é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. Amor muitas vezes é uma masturbação. Sexo, não. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo, é carnaval."
2. "Em uma tarde de Domingo, faltou o ponta-esquerda titular do Ipiranga, que ficara de castigo em casa, por ter espirrado, de sua varanda, tinta de caneta Parker na cabeça dos passantes. Eu me acendi de esperança. O capitão do time, o temido Acreano, me examinou de longe com as camisas na mão. Meio contrafeito, como quem faz um favor, atirou-me a almejada camiseta. Vesti-a com o coração aos pulos, sentindo que uma vida nova começava, espiando pelo canto do olho as meninas já sentadas na amurada, Silvinha entre elas, em cochichos e risos com suas blusinhas de banlon e saias plissadas. Desfilei por ali, sem olhá-las directamente, com a naturalidade de um profissional, chegando mesmo a tentar uma discreta embaixadinha.
O juíz já estava de apito na boca, e era o famoso Mário Vianna, que morava ali na orla e, às vezes, brincava de apitar jogos de garotos, como aquele, entre o Ipiranga e o Arsenal, com suas listras azuis e douradas. Eu, de mãos na cintura e tornozeleira, firmava um olho na bola e o outro na Silvinha, concentrando energia para dar o melhor de mim e sair da condição de "babaca", classe onde eu vivia, para entrar na categoria dos fortes, dos brutos.
Foi aí que minha vida começou a mudar. O juiz ia apitar quando se ouviu uma alarido de "pára, pára", cobrindo a chegada esbaforida de Porcolino, o festejado ponta-esquerdo do Ipiranga, que fugira de casa e corria para a sua posição de titular. Em um segundo, o capitão Acreano tirou-me a camisa e entregou-a a Porcolino, famoso por um raro gol de bicicleta que fizera contra um time visitante.
Parecia que me tiravam a pele, quando arranquei a camisa verde e rubra; sentia-me nu e arrojado de volta à classe dos "otários", fugindo do olhar da Sivinha, que, certamente, me fitava com desprezo, enquanto eu corria para o mar, onde saí nadando para esconder, na água salgada, o choro da vergonha."
3. "Existem vários tipos de chatos. O mais famoso é o chato de galochas, que eu pesquisei e descobri que a origem do termo fala do cara que sai de casa com chuva torrencial, põe as galochas e vai a tua casa para te chatear."
4. "E esses mesmos padres nos diziam: "Cada vez que você se masturba, morrem milhões de pessoas que iam nascer. É um genocídio!" E nós, além do pecado, sofríamos a vergonha de ser pequenos hitlers de banheiro."
Excertos do fantástico livro de crónicas "Amor é Prosa Sexo é Poesia" do brasileiro Arnaldo Jabor que a Sam me ofereceu no Natal e cujo título faz intencionalmente lembrar a famosa canção da Rita Lee.
Há dias escrevi este e este post. Ontem, ao ler o livro “Quem nos faz como somos” de J. L. Pio Abreu, de que até nem gostei particularmente, o bocado de texto que se segue apanhou-me desprevenida.
”O que sou, então? Não me resta senão procurar a resposta nos olhos dos outros. Vou à procura de olhares e, por isso, gosto de andar no anonimato do metropolitano, frente a frente com os olhares desconhecidos: olhares baços, alguns, outros curiosos, uns poucos em desafio, outros tímidos, suplicantes, sonhadores. Nada me dá maior gosto do que o jogo dos olhares. Olhares que me procuram traiçoeiramente para logo me fugirem quando os enfrento, com lances de bate e foge, um sorriso fugidio, uma desatenção fingida, um desprezo ocasional, uma súplica inconsequente de intimidade, um genuíno evitamento, tal como eu faço com eles. São esses os verdadeiros espelhos onde nos refazemos através dos outros.”
Já conhecia dois livros deste autor: "O vendedor de passados" e o "O ano em que Zumbi tomou o rio". Gostei bastante de ambos.
Ontem à noite, acabei mais um, intitulado "Um estranho em Goa".
Este último só peca, no meu entender, pelo facto da história ser curta. Quando a pessoa começa a sentir-se à vontade nas ruas daquela Índia e a querer descobrir o mistério de cada uma das personagens, a aventura acaba. É um bocado frustrante.
Entretanto, percebi porque é que a fórmula deste autor me seduz.
É que ele consegue explicar-me um sentimento antigo e meu de posse emocional por mundos culturais e geográficos que, à primeira vista, parecem tão diferentes e longínquos de mim.
Ainda há pouco tempo andava nos sessenta. E graças a esta sugestão descobri que, para mim, a carreia ideal é na FAO Schwartz.
You Act Like You Are 25 Years Old |
You are a twentysomething at heart. You feel like an adult, and you're optimistic about life. You feel excited about what's to come... love, work, and new experiences. You're still figuring out your place in the world and how you want your life to shape up. The world is full of possibilities, and you can't wait to explore many of them. |
…I’m here and I’m ready and I’ve saved you the passenger seat
I won’t be your last dance just your last goodnight
every heart is a package tangled up in knots someone else tied
I’ll be the one to drive you back home…
[de «Kathleen», Josh Ritter. Esta música fabulosa tem os dias contados no canal Sam. É aproveitar enquanto dura, a música e tudo o resto.]
Atenção: é giro que se farta!
Acontece que nos tínhamos beijado sem querer e ele tentava brincar com isso para desanuviar a tensão. Não sei detalhes - não sonhei essa parte – mas a situação era esta: tínhamo-nos beijado sem querer e agora havia um certo embaraço.
Em poucos segundos percebi que afinal não me sentia assim tão embaraçada (será que tinha sido mesmo sem querer?) e enquanto ele repetia “foi um acidente, coisas que acontecem”, eu ia-me aproximando o suficiente para um novo impacto. Nesta segunda vez, a primeira com que realmente sonhei, acho que o apanhei a falar e daí ter-lhe beijado os dentes. Sorrimos os dois com mais um beijo embaraçoso. Mas então ele fez um ar sério, beijou-me por querer e fade out.
Infinitamente melhor do que aquele sonho da semana passada em que me caíam as unhas todas.