Voando sobre um ninho de cucos (cont.)
Há dias escrevi este e este post. Ontem, ao ler o livro “Quem nos faz como somos” de J. L. Pio Abreu, de que até nem gostei particularmente, o bocado de texto que se segue apanhou-me desprevenida.
”O que sou, então? Não me resta senão procurar a resposta nos olhos dos outros. Vou à procura de olhares e, por isso, gosto de andar no anonimato do metropolitano, frente a frente com os olhares desconhecidos: olhares baços, alguns, outros curiosos, uns poucos em desafio, outros tímidos, suplicantes, sonhadores. Nada me dá maior gosto do que o jogo dos olhares. Olhares que me procuram traiçoeiramente para logo me fugirem quando os enfrento, com lances de bate e foge, um sorriso fugidio, uma desatenção fingida, um desprezo ocasional, uma súplica inconsequente de intimidade, um genuíno evitamento, tal como eu faço com eles. São esses os verdadeiros espelhos onde nos refazemos através dos outros.”
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