No reino bué bué longe (parte 1)
Na terça-feira passada, encontrei um ex-namorado que não via há uma série de tempo.
Pareceu-me ter ficado atrapalhado com a minha presença. Eu fingi não reparar no desconforto e iniciei a conversa de circunstância com um sorriso genuinamente desempoeirado.
Contudo, apesar do meu esforço, o rapaz, já entrado nos quarenta, manifestava um nervoso miúdinho, que revelava ainda não ter conseguido dar cabo de uma certa ansiedade social que o caracterizava.
Estava demasiado igual ao que era dantes (à excepção da barriga que agora é proeminente).
Claro que não me apresentou a mulher que o acompanhava, tendo ela, em resultado daquela passividade constrangedora, resolvido afastar-se. Com este ambiente pouco propício a delongas, eu já me preparava para bater em retirada quando ele, inesperadamente, disparou "Continuas casada?"
Tive de fazer um esforço para não me rir com aquela pergunta, feita demasiado depressa e fora de tom.
Depois da troca de duas ou três informações adicionais bastante mais inócuas que aquela, despedimo-nos. Ele foi procurar a desertora e eu fui comentar a cena com a Sam que só tinha assistido às deixas finais.
Chegada a casa, deitei-me no sofá da minha sala, perplexa com o facto daquele homem não me suscitar, hoje, a mais pequena empatia.
Enfim, é certo que passaram muitos anos desde então, mais de quinze. Mas também é verdade que há certas pessoas que o tempo não vence, que permanecem em nós, eternas.
Pelos vistos, ele não.
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