Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

No reino bué bué longe (parte 1)

Na terça-feira passada, encontrei um ex-namorado que não via há uma série de tempo.

Pareceu-me ter ficado atrapalhado com a minha presença. Eu fingi não reparar no desconforto e iniciei a conversa de circunstância com um sorriso genuinamente desempoeirado.

Contudo, apesar do meu esforço, o rapaz, já entrado nos quarenta, manifestava um nervoso miúdinho, que revelava ainda não ter conseguido dar cabo de uma certa ansiedade social que o caracterizava.

Estava demasiado igual ao que era dantes (à excepção da barriga que agora é proeminente).

Claro que não me apresentou a mulher que o acompanhava, tendo ela, em resultado daquela passividade constrangedora, resolvido afastar-se. Com este ambiente pouco propício a delongas, eu já me preparava para bater em retirada quando ele, inesperadamente, disparou "Continuas casada?"

Tive de fazer um esforço para não me rir com aquela pergunta, feita demasiado depressa e fora de tom.

Depois da troca de duas ou três informações adicionais bastante mais inócuas que aquela, despedimo-nos. Ele foi procurar a desertora e eu fui comentar a cena com a Sam que só tinha assistido às deixas finais.

Chegada a casa, deitei-me no sofá da minha sala, perplexa com o facto daquele homem não me suscitar, hoje, a mais pequena empatia.

Enfim, é certo que passaram muitos anos desde então, mais de quinze. Mas também é verdade que há certas pessoas que o tempo não vence, que permanecem em nós, eternas.

Pelos vistos, ele não.