Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Por falar em livros

1. "Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do "outro"; o sexo, no mínimo precisa de uma "mãozinha". Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até mais sozinhos, na solidão e na loucura. Sexo, não - é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. Amor muitas vezes é uma masturbação. Sexo, não. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo, é carnaval."

2. "Em uma tarde de Domingo, faltou o ponta-esquerda titular do Ipiranga, que ficara de castigo em casa, por ter espirrado, de sua varanda, tinta de caneta Parker na cabeça dos passantes. Eu me acendi de esperança. O capitão do time, o temido Acreano, me examinou de longe com as camisas na mão. Meio contrafeito, como quem faz um favor, atirou-me a almejada camiseta. Vesti-a com o coração aos pulos, sentindo que uma vida nova começava, espiando pelo canto do olho as meninas já sentadas na amurada, Silvinha entre elas, em cochichos e risos com suas blusinhas de banlon e saias plissadas. Desfilei por ali, sem olhá-las directamente, com a naturalidade de um profissional, chegando mesmo a tentar uma discreta embaixadinha.

O juíz já estava de apito na boca, e era o famoso Mário Vianna, que morava ali na orla e, às vezes, brincava de apitar jogos de garotos, como aquele, entre o Ipiranga e o Arsenal, com suas listras azuis e douradas. Eu, de mãos na cintura e tornozeleira, firmava um olho na bola e o outro na Silvinha, concentrando energia para dar o melhor de mim e sair da condição de "babaca", classe onde eu vivia, para entrar na categoria dos fortes, dos brutos.

Foi aí que minha vida começou a mudar. O juiz ia apitar quando se ouviu uma alarido de "pára, pára", cobrindo a chegada esbaforida de Porcolino, o festejado ponta-esquerdo do Ipiranga, que fugira de casa e corria para a sua posição de titular. Em um segundo, o capitão Acreano tirou-me a camisa e entregou-a a Porcolino, famoso por um raro gol de bicicleta que fizera contra um time visitante.

Parecia que me tiravam a pele, quando arranquei a camisa verde e rubra; sentia-me nu e arrojado de volta à classe dos "otários", fugindo do olhar da Sivinha, que, certamente, me fitava com desprezo, enquanto eu corria para o mar, onde saí nadando para esconder, na água salgada, o choro da vergonha."

3. "Existem vários tipos de chatos. O mais famoso é o chato de galochas, que eu pesquisei e descobri que a origem do termo fala do cara que sai de casa com chuva torrencial, põe as galochas e vai a tua casa para te chatear."

4. "E esses mesmos padres nos diziam: "Cada vez que você se masturba, morrem milhões de pessoas que iam nascer. É um genocídio!" E nós, além do pecado, sofríamos a vergonha de ser pequenos hitlers de banheiro."

Excertos do fantástico livro de crónicas "Amor é Prosa Sexo é Poesia" do brasileiro Arnaldo Jabor que a Sam me ofereceu no Natal e cujo título faz intencionalmente lembrar a famosa canção da Rita Lee.