Metro-polis
Falta um elemento muito bom que não percebi se faria parte deste conjunto, mas que irá aparecer numa imagem futura.
The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]
Falta um elemento muito bom que não percebi se faria parte deste conjunto, mas que irá aparecer numa imagem futura.
ou I’d prefer a new edition of the Spanish Inquisition
Have you ever met a man of good character where women are concerned? Well, I haven’t. I find that the moment I let a woman make friends with me, she becomes jealous, exacting and a damned nuisance. And I find the moment I make friends with a woman I become selfish and tyrannical.
[Prof. Higgins, «My Fair Lady». Para um amigo.]
No sábado à noite assisti a atitudes pouco dignificantes de uma grande amiga minha. Tudo começou com um "apetece-me dançar" que afinal quis dizer "apetece-me beber".
Dançou pouco, bebeu muito e meteu conversa com metade dos elementos masculinos do sítio onde estávamos, acabando por arranjar confusões com o marido.
Este disparate premeditado e raivoso fez-me pensar.
Não será melhor, apesar de tudo, recomeçarmos em vez de nos deixarmos ficar infelizes e a fazer periodicamente figuras tristes para ver se enganamos as nossas frustrações, desilusões e expectativas?
Têm ar de bonecos Hanna-Barbera mas não os reconheço como tal. Terão sido inventados pelo artista?
[Uma pessoa está a trabalhar, estão a ver? Concentrada e tudo. E de repente, sem dar por isso, já não está. A Sam está para mim como o astronauta Spiff para o Calvin.]
Uma perspectiva sobre o tema da moda:
Não gosto de ti. Um jogo estranho, agora que penso nisso. Chamávamos-lhe jogar ao não gosto de ti. "Queres jogar ao não gosto de ti?". As palavras soam-me tão familiares mas é como se nunca lhes tivesse percebido o sentido. [Um pouco como o «lead piping».] Consistia apenas em dizermos, uma à outra, "não gosto de ti". Depois deixávamos aquilo escalar um bocado: "já não gosto de ti mesmo", "não estou a brincar, não gosto de ti", "eu não gostava de ti primeiro", "estou a falar a sério, não gosto de ti" – não variava muito – e a primeira a desistir da escalada, perdia.
É(ra) um jogo que me causa(va) sentimentos contraditórios, mas é sem dúvida um jogo da minha vida.
Eu não tenho o jeito do maradona (com minúscula) para escrever sobre futebol. Aliás, não tenho jeito nenhum. Mas a qualidade, a emoção e a vitória de ontem merecem uma referência por mais mediocre que seja. Grande jogo. Com golos lindos, prolongamento e penalties. Um verdadeiro espectáculo. Muita pena tenho eu de não ter estado presente no estádio da Luz. É nestas ocasiões (demasiado raras) em que nos convencemos que afinal até vale a pena ir pagando as quotas. Viva o Benfica !
Isso de dizeres que eu penso como um homem pode ser encarado como insulto...
Olha, meg, está tudo trocado. Se eu penso como um homem (your words), então este rapaz, que dá os parabéns à Dove, tem a visão feminina do assunto.
[deste editorial]
Nós em geral (pode-se ser mais genérico que isto?) acreditamos que os outros falam, falam, falam, falam, mas não percebem e, acima de tudo, não actuam; “não os vejo a fazer nada”. Que criticam mas não fariam melhor. Que não conhecem as dificuldades. Que não sabem o que dizem. Que não têm experiência para falar. Que fazem o contrário do que apregoam. Isto, claro, quando e sempre que a sua opinião diverge da nossa.
O que se tem dito da personalidade de Francisco Louçã por causa da sua infeliz interpelação a Paulo Portas é ridículo. As graves deformações psíquicas que já lhe foram diagnosticadas revelaram a existência de mais não sei quantas centenas de bastiões do politicamente correcto, todos candidatos a psicólogos.
Ninguém se está cagando para o segredo de justiça e toda a gente defende o direito à reserva dos conflitos íntimos de Paulo Portas. Não existe pessoa mais ética e moralmente exemplar que o comentador de política. [Mas lá em casa dele, como será? Ups, não quero incorrer em violação da sua pequenina hipocrisia, perdão, intimidade. Até porque isso seria insinuar que ele não tem o direito de escrever sobre (a ausência de) valores que nunca exerceu.]
Os cartazes não angariam votos. Deve haver estudos, sondagens, livros, que demonstram isso mesmo. “Aquele do «voto útil» está bem fisgado. Até vou votar no PP” (ou no CDS ou lá o que é). Isto é um salto no raciocínio que - excepto em casos excepcionais que, por isso mesmo, deverão ser excepcionados - não existe. Já não estou tão segura que os cartazes não possam fazer perder votos mas agora não tenho muito tempo.
Independentemente da utilidade e eficácia dos outdoors para a campanha eleitoral, estes são um dos suportes de divulgação em que a criatividade dos marqueteiros encontra maiores desafios. Vender pessoas deve ser difícil, imagino. Admiro quem o consegue fazer bem ou mesmo quem consegue apenas não o fazer mal. Impressiona-me o “tudo ou nada” que é ter uma boa ideia para um cartaz. Um segundo antes havia um deserto de imaginação e depois, zás, a ideia perfeita, salvadora, enfim, «ideal».
Destruir cartazes, ainda que por razões estéticas, é falta de ética. É indecente. É coisa de arruaceiros desqualificados.
Mas... Que imaginação! O que se consegue fazer com uma bolita vermelha. E nunca ficaremos a saber quem são os criativos da contra-campanha.
A partir de agora, quando entrarmos naquelas conversas circulares, arrastadas de forma interminável com a fatal pergunta de (re)arranque “o que é que tu achas?”, a primeira que se lembrar dirá: “He’s just not that into you”. Combinado?
Charlotte – So how did the date end?
Foi a Miss Scarlett na dining-room com o candlestick.
Era exactamente esta a edição que tínhamos lá em casa. Tudo em inglês. E eu sabia identificar o lead piping mas só mais tarde é que percebi que «lead piping» queria dizer alguma coisa.
The only way Clem thinks she’ll get people to like her is to fuck them. She is so desperate and insecure that, sooner or later, she’ll go around fucking everybody.
[Joel Barish, «Eternal Sunshine of the Spotless Mind»]
O peso de se chamar Faithfull.
[Para ser diferente]
Cor certa em posição errada, cor certa em posição certa. Um dos meus jogos favoritos: o Master Mind.
Um homem e uma mulher juntos num local público à hora do jantar não quer necessariamente dizer que os dois andam a partilhar a mesma cama. Irra.
O Acidental reúne tanta gente amargurada e ressentida. Cada vez que chega um novo é uma toda uma nova possibilidade que se abre, uma expectativa que se gera. Mas nada; a (de)pressão do grupo prevalece. Alguém os maltratou, estou certa. E ninguém gosta deles, não há dúvida. Ou não haveriam razões para o tom ser sempre o do “todos me devem e ninguém me paga”.
Agora é porque o Ricardo Araújo Pereira não é do clube deles e, convenhamos, se é para ser dos outros «não devia ter aspirações políticas». Qualquer criança com birra compreende perfeitamente esta posição. Até as palhaçadas do Bloco de Esquerda são transformadas em «pesadelo». Estou convencida que quando conseguirem arranjar uma marcha fúnebre em mp3, o blog passará a ter música.
[Aquilo que ainda me distrai são os apelidos: dois para cada um e de encher o ouvido. Admito que passei alguns minutos a dizer, de mim para mim, «Jacinto Moniz de Bettencourt»: é um nome que transmite altos níveis de qualidade ao produto associado.]
Cidadão norte-americano não identificado sobre, e dirigindo-se a, Almada Negreiros: “Nunca conheci ninguém que tivesse tanta certeza de uma coisa."
Almada Negreiros: “Esse sou eu. Mas a coisa não sei o que seja.”
[tal como contado por Almada Negreiros no «Zip Zip»]
- Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas. (Jornal das Moças,1957)
- Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afecto. (Revista Claudia, 1962)
- A desarrumação numa casa-de-banho desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa. (Jornal das Moças, 1965)
- A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas. Nada de incomodá-lo com serviços domésticos. (Jornal das Moças, 1959)
- Se o seu marido fuma, não arranje zanga pelo simples facto de cair cinzas nos tapetes. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa.(Jornal das Moças, 1957)
- A mulher deve estar ciente que dificilmente um homem pode perdoar a uma mulher que não tenha resistido a experiências pré-núpciais, mostrando que era perfeita e única, exactamente como ele a idealizara. (Revista Claudia, 1962)
- Mesmo que um homem consiga divertir-se com sua namorada ou noiva, na verdade ele não irá gostar de ver que ela cedeu. (Revista Querida, 1954)
- O noivado longo é um perigo. (Revista Querida, 1953)
- É fundamental manter sempre a aparência impecável diante do marido. (Jornal das Moças, 1957)
- O lugar da mulher é no lar. O trabalho fora de casa masculiniza. (Revista Querida, 1955)
O conteúdo deste post foi gentilmente cedido por um amigo que julgou conseguir provocar-me com este disparates.
Sentada, claro, e:
A censura existe, nas rádios e nas televisões. Não se consegue ouvir a versão integral de uma música do Eminem sem comprar o disco. Nota-se sobretudo nas músicas do Eminem e no rap/hip-hop em geral, mas em qualquer música são censurados os palavrões. Não percebo porque é que isto é admitido. Se fossem “apagar” palavrões num filme era um escândalo.
Um escândalo é a música do Eamon em versão censurada. Pegando só no refrão:
É que a música chama-se «xxx it».
adj. 2 gén. que não se pode escrutar; impenetrável; incompreensível. Do «Dicionário da Língua Portuguesa», Porto Editora, para a minha amiga Inês.
[Tenho um problema relacionado com trocadilhos: sou viciada. A culpa é do meu pai.]
Há quem confunda má educação com antipatia e acabe elevando o comum mal-educado à categoria de antipático. A subtileza e sofisticação inerentes ao bom exercício da antipatia não se coadunam com a vulgaridade de trato e pobreza de espírito por onde grassa a má educação. A antipatia é quase genética, como o porte aristocrático. A má educação apanha-se por aí se não se estiver vacinado ou não se for antipático. Porque a antipatia, estou em crer, assegura, quase sempre, imunidade ao vírus da má educação.
No mês passado, Ronan Keating lançou um cover single (soa bem assim) da música «Father & Son» do Cat Stevens. Não sei como foi conseguida tamanha transigência mas o que é certo é que o Sr. Yusuf Islam acompanha Ronan Keating na interpretação do tema e até aparece, muito de fugida, no videoclip. O resultado é «Ronan Keating featuring Yusuf» (ao que parece deixaram cair o "Islam" da capa do disco para não prejudicar as vendas).
«Ronan Keating featuring Yusuf»? Quem é Ronan Keating para feature Cat Stevens, hã? Quem é que ele pensa que é? Qualquer dia temos os Maroon 5 featuring Mick Jagger. E ainda vai aparecer alguém a tentar forçar um dueto com o John Lennon através do uso das tecnologias modernas (só over Yoko’s dead body, claro). Tss, tss.
É esta uma oportunidade tão boa como outra qualquer para voltar a dizer que sou uma grande, grande admiradora daquilo que conheço do Cat Stevens: a composição e a interpretação; música por música, disco a disco. Eu, o Ben Harper e muitíssimos outros (a minha irmã, por exemplo).
“(...) os arguidos correram atrás de si, empurraram-no fazendo-o cair, e enquanto J. permanecia no solo desferiram-lhe vários pontapés e murros na cabeça, na zona lombar e na anca do lado direito, e o arguido F. atingiu-o por diversas vezes com a fivela de um cinto na cabeça. (...) A conduta dos arguidos provocou em J. escoriações na região escapular à esquerda, escoriações na região malar à direita, contusão ilíaca direita e dor nas regiões atingidas. (...) Os ferimentos causados a J. necessitaram de um período de cinco dias para curar.”
J. é meu irmão. Apesar de conhecer bem a história e as marcas das agressões, custou-me ler o despacho. Mas, depois de cinco segundos a imaginar terríveis vinganças corporais, consegui confortar-me com a mera oportunidade de punição pela via judicial. E quando falo nesta punição não penso em pena de prisão ou de multa, e menos ainda na indemnização que lhe será devida. Penso apenas no julgamento. Que os arguidos sejam julgados é, para mim, simultaneamente essencial, no sentido de elementar, e o mais importante.
Foi a maior fábrica de sonhos do século XX, o Benfica. Só mesmo o Benfica. O Benfica a relativizar o conceito de craque. Vulgarizar até. Para bancadas vestidas de gente, gente ululante, gente regalada, com cio de bola, num olhar de gente continuadamente infantil à locomotiva vermelha, transporte seguro e pundunoroso de outra gente, gente que soprou talento, gente de exibições sobrenaturais, gente que rubricou momentos ferozmente bons, gente que soprou talento, gente com suplemento de garra, gente da gente, só da gente. Gente muita houve para quem o dia nasceu contente. Gente que tanta vez enganou a fome com a bola. Gente apaixonada pelas belas aguarelas. Gente do Benfica. E aquela gente, demasiado divina em campo? A crispar os sentidos, a obsidiar a inglória. Num tributo aos novos e aos velhos, aos plebeus e aos aristocratas, aos iletrados e aos eruditos. A todos, a todos os missionários da crença vermelha.
Foram Eusébio ou Coluna. Como antes Francisco Ferreira ou Rogério. Antes ainda, Vitor Silva ou Espírito Santo. Mais tarde, Humberto Coelho ou Chalana. Agora, Simão Sabrosa ou Nuno Gomes. Foram as chuteiras mágicas. O carisma magnético. As conquistas avassaladoras. Os artistas da bola, os poetas do jogo, os heróis do povo.
Cem jogadores para cem anos de história. Sem renitência e sem temor. Também sem esforço mas talvez com pecado, pequeno que seja, mas sempre pecado. Não há, não pode haver, duas escolhas iguais. Esta é a minha, alicerçada em muitas horas de leitura das escrituras garridas, no saldo das tertúlias berrantes, na observação directa das façanhas rubras. Não é, longe disso, um trabalho magno mas é, imodestamente, um trabalho que não há, não havia. Nesta como noutras (poucas) ocasiões, não resisto a reputar a obra como um acto de megalografia. Em virtude, tão-somente, do jaez dos biografados. E se o adjectivo é a prosa a tomar partido, no entendimento do mestre e amigo Baptista-Bastos, fica a advertência para a prosa adjectivada que se segue. Afinal, no desfile de gente imorredoura, de gente enorme, na concepção de benfiquismo, de portugalidade. Com uma dedicatória sentida ao Centenário. Ao povo vermelho. Ao Benfica.
Introdução do livro "Memorial Benfica 100 Glórias" - João Malheiro
Encontro o meu filho sentado com a cabeça apoiada na mão e o olhar distante.
- O que estás a fazer?
- Estou a pensar.
- Em quê?
- Na vida.
Liguei-te ontem a pretexto do teu trigésimo segundo aniversário e acabámos por ficar mais de três horas a conversar. Quando finalmente desligámos, enrosquei-me no meu edredom e sorri. Tu conheces-me bem.
Conheço um rapaz que, amiúde e entusiasmado com a conversa, conclui as frases que me dirige com “meu”. Por exemplo: “tu és lixada, meu!”. Qual o diagnóstico, Dr. Gross?
A minha irmã pequenina fez quatro anos na segunda-feira passada. Depois de apagadas as velas e cortado o bolo, quando calhou ficarmos as duas, por um momento, sozinhas na sala, agarrou-se às minhas pernas e disse: “gosto muito de ti”.
Não me lembro há quanto tempo ninguém mo dizia, nem da última vez que o disse. Com que idade é que se aprende a não dizer o que se sente? Isto é: quando é que se começa a desaprender?
O desempenho do Colin Farrell é basicamente uma desilusão e o resto não chega para convencer.
Quando os anglo-saxónicos em geral, e os americanos e ingleses em especial, fazem covers, adaptam os femininos e masculinos da letra da música de acordo com a condição masculina ou feminina do intérprete. É fatal como o destino.
Na música brasileira, não. Nem é preciso falar em covers. A música pode ter sido escrita originalmente para um(a) cantor(a) específico(a) e, ainda assim, prevalecer o género feminino ou masculino do letrista. Temos a Marisa Monte a dizer que fica “mais bonito, mais esperto” e não parece estranho porque sempre foi assim na música brasileira (quando tinha 8, 9, 10 anos causava-me alguma estranheza). Aparentemente valorizam mais a integridade do texto, considerando que nada se perde em credibilidade na interpretação.
Há também a esquizofrenia de Chico Buarque que escreve a pensar na intérprete e depois interpreta como se não tivesse sido ele a escrever.
Comento: O chá é preto. Não o posso beber.
Perguntas: Porquê?
Respondo: Porque é excitante.
Exclamas: Pede outro!
[*de «Such a Shame», Talk Talk]
Ele escreve directamente em brasileiro ou tem um tradutor?
Quanto ao resto, apesar da menor importância do assunto, eu recomendo a JPC que siga fumando avidamente pela vida fora porque "as pessoas que fumam são mais tolerantes, mais calmas, mais interessantes" e, se mantiver a persistência, isto poderá acontecer-lhe a qualquer momento.
Nem que seja à boleia.
[Gosto muito de graffitis bem feitos; feitos com minúcia, perfeição e imaginação.]
Vieram dizer-me que há certas e determinadas pessoas que se movimentam nas mais altas instâncias do poder executivo da organização em que me encontro profissionalmente inserida (lindo); ora, recapitulando, disseram-me que essas certas e determinadas pessoas terão ventilado que me consideram “antipática”.
Por sua vez, o prestimoso mensageiro que transmitiu esta informação – o meu chefe – apressou-se a esclarecer que tinha, de imediato, aplicado toda a sua veemência e convicção em contestar o ventilado, pois que só poderia resultar do facto de os sujeitos denominados, de forma abreviada e para simplificar (é um vício que eu tenho: simplificar sempre, simplificar tudo, mas depois, com mais vagar, farei uma adenda só sobre essa matéria concreta), “certas e determinadas pessoas importantes” não me conhecerem bem.
É evidente que há aqui, desde logo, uma percepção desacertada respeitante às especificidades das relações humanas, sejam pessoais ou profissionais. Parece-me indiscutível que somos tanto mais simpáticos com alguém quanto pior conheçamos esse alguém. Quer isto dizer que, se “certas e determinadas pessoas importantes” viessem a ter a oportunidade de me conhecer melhor (livra), teriam então razões sérias para me considerar antipática. Mas, enfim, foi o argumento arranjado para defesa da minha honra de pessoa simpática e o que conta é a intenção.
Não obstante, o dito mensageiro, porque leva em conta, acima de tudo, os meus interesses profissionais, aproveitou para acrescentar que não se perderia nada se eu me esforçasse: ele sabe que sou um poço de simpatia e alvitra apenas a hipótese de eu me esforçar por deixar isso mesmo transparecer na minha actuação quotidiana.
No sentido de dar o melhor seguimento a esta subtil sugestão, decidi que vou passar a dizer “bom dia” no elevador, em vez daqueles insultos ordinários que, até aqui, lançava indiscriminadamente sobre quem me aparecesse pela frente no interior do edifício, bastando para tanto que não o/a conhecesse bem. Pelo menos, durante o dia de amanhã.
O cabelo é uma arma.
Tenho as orelhas desniveladas. Quase ninguém sabe. Não é uma coisa que salte à vista mas é verdade. Isto é assim há muitos anos. É provável até que seja de nascença mas nunca li nada de científico sobre o assunto. Aliás, também nunca li nada de não-científico sobre o assunto.
Reparei logo na primeira vez que me vi ao espelho com óculos. Devia ter uns oito anos. [Fui ao oftalmologista na sequência de um voo picado de cabeça das argolas para o chão do parque do Alvito. Segundo o doutor, a queda não afectou a visão porque eu já não devia ver nada antes de a dar.] Desde aí, sempre que tenho uns óculos novos – hoje em dia, só óculos de sol –, passo os primeiros meses de uso a torcer as hastes, na esperança de contrariar a altura irremediavelmente assimétrica dos respectivos suportes. As sobrancelhas são o elemento denunciador.
Já estava a sair dos teens quando descobri que a Cindy Crawford se dizia atormentada por inúmeros defeitos físicos, entre os quais – exacto – as orelhas desniveladas. Ainda assim, entendi manter um low profile quanto a esta questão delicada.
Há cerca de dois meses fui almoçar com o meu pai e com a minha irmã, e do programa fazia parte a aquisição de uns óculos escuros para a mana. Põe óculos, tira óculos, experimenta tu, mostra lá esses, eu distraio-me e, zás, o meu pai começa a tentar endireitar-me uns óculos torcendo-me a cara. Pronto, tive de admitir: “sabes, pai, é que...”. Resposta dele: “olha que engraçado, eu também!”. Coincidências.
Pois, de lado também eu e mesmo assim nota-se qualquer coisa.
Resolvi há pouco mais de um mês recorrer à homeopatia para travar uma persistente e irritante queda de cabelo.
Alinhei nesta medicina a pensar que na primeira consulta me iriam logo receitar umas cápsulas milagrosas para eu finalmente poder ter a juba de leão a que tenho direito. Achei ingenuamente que o assunto ficaria pacatamente arrumado com uma dose diária de um qualquer cocktail de plantas.
A coisa não funcionou nada como eu estava à espera. Explicaram-me que o problema do cabelo era apenas a ponta do icebergue e que seria preciso fazer uma batalhão de exames durante uma manhã inteira para apurar todas as minhas maleitas e, então, tratá-las em conjunto, estilo revisão dos 30.000 km.
E eu, surpreendentemente ou talvez não, em vez de bater com a porta, resolvi ver para crer.
Não estou arrependida apesar de esperar horas para ser atendida, dos medicamentos custarem uma fortuna e da minha mala se ter transformado numa farmácia ambulante. E – last but not least - de ter sido aconselhada a alterar de forma radical os meus hábitos alimentares com vista a optimizar o processo.
"As férias da Rita" é assunto que me interessa e que me afecta directamente. Mais: aposto que a Rita vai estar de férias quando o mundo acabar.
Há pessoas na nossa vida que não são parentes porque não partilham o nosso sangue nem os vínculos originados pelo casamento. Não são pais, nem primos, nem sogros, nem tios.
Mas são família. Porque há laços. Porque há Natais a oitos de Janeiro.
Depois, há aquela parte em que ele diz «But you know, love, there's one more thing to consider», e nunca se chega a perceber qual era a coisa que ainda era preciso considerar, e eu fartei-me de insistir nisso e tu não sabias. Nem o que faltava considerar, nem porque é que eu insistia nisso.
Acho que era uma manobra de diversão para despistar a emoção.
[Mierzwiak! Please let me keep this memory, just this one. Can you hear me? I don't want this anymore! I want to call it off!]
Regressaste mas não trouxeste contigo a amizade de volta. Afinal, a dita tinha mesmo termo certo e desapareceu com a alteração das circunstâncias.
O.k. Eu aceito o facto.
Agora, não me peças para a transformar numa banalidade. Não tenho vontade nem feitio.
O Frescos? É útil. Diz-nos quando os blogs são actualizados. Tem falhas de vez em quando mas, regra geral, funciona bem. Foi o Eduardo que me mostrou.
Acontece que, pelo menos, desde ontem algo se passa com o link do Frescos para o Barnabé. Ontem chamavam-lhe "Bananas" e hoje chamam-lhe "Somos Muito Palermas". Fiquei curiosa. Quem será o espertinho? [um espertinho apesar de tudo comedido: "Somos Muito Palermas"...?] E, mais importante, o que será que lhe vão chamar amanhã?
As músicas que ficam nunca são as minhas. Shed a tear 'cause I'm missing you...
Este ano, excepcionalmente, o natal não termina no dia de reis. Pedimos desculpa pelo incómodo causado. Tentaremos ser breves e não provocar atrasos na execução do calendário do resto do ano.
Gostei da história e da História. Lê-se bem. Se o escritor se lembrar de editar um segundo, compro.
O meu filho é um super herói.
Hoje de manhã, levou uma vacina e não gritou, não chorou, nem sequer ficou zangado.
Ok. Ele sabia que depois da pica receberia um presente. E então? Eu, quando era miúda, tinha ataques de pânico só de pensar em levar uma injecção.
A minha mãe prometia-me mundos e fundos, como por exemplo, cromos da Abelha Maia e eu não queria saber, fazia uma fita desgraçada na mesma.
A minha criança não. Portou-se à altura dos acontecimentos.
Há quem olhe demasiado. Há quem olhe sem apreciar. Há quem olhe tarde de mais.
[para dois maridos que têm feito por merecer o estatuto de ex]
(2002)
Nem por mais uma os consigo pôr um ao lado do outro, como deve de ser. Fica só um. Hum... isto não é uma metáfora; a menos que a estejam a pregar a mim.
O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. E o que nasce direito, mais cedo do que tarde se entorta. Não há explicação, ou há tantas explicações que vai dar ao mesmo. Então, semicerramos os olhos, olhamos de viés, e conseguimos ver direito aquilo que está torto. [Até, só até.]
Para ter uma vida fácil é fazer como dizia o John Lennon: living is easy with your eyes closed.
Olhos fechados ou abertos, essencial é ter uma boa banda sonora. É o caso.
Estes dez dias passaram a correr.
Não notei a tua ausência. Não me fizeste falta. Não tive saudades.
Só preciso de voltar a estar contigo urgentemente para te pedir emprestado mais dois DVD's da segunda série do 24 horas.
De todas as frases em todos os livros de todo o mundo, ele tinha de citar a minha. «Cinco da tarde. Lisboa. Dia de ano novo. (...) Olha a rua cheia de tempo para gastar.»