A Fundação Portuguesa de Cardiologia (link na imagem) lançou uma campanha de sensibilização para o problema do excesso de peso nas crianças, fazendo-o, entre outros meios, através de um cartaz em que o miúdo gordo não tem nome - é o “gordo”.
As campanhas de sensibilização devem conseguir chamar a atenção e causar impacto nos destinatários da mensagem. Os destinatários desta mensagem são os adultos que, por razões de parentesco ou quaisquer outras, tenham a responsabilidade de cuidar da alimentação de crianças.
Ainda neste Sábado, a Huma contou-nos a impressão que lhe causou ouvir uma professora referir-se ao seu sobrinho como “aquele miúdo gordo”. O nosso sobrinho é imensas coisas: tem jeito para a música, é carinhoso, percebe imenso de computadores e, é verdade, está um bocadinho gordo, mas ainda não cresceu, vai dar um grande salto. Ouvir uma quase desconhecida referir-se a alguém de quem gostamos como “o gordo”, em especial quando esse alguém é uma criança, tem consequências. E a consequência que teve, logo naquela conversa, foi pôr-nos a falar da alimentação das crianças e, por exemplo, da necessidade de ser feita uma triagem aos produtos alimentares vendidos nas cantinas das escolas.
Penso que a campanha está bem conseguida no seu propósito de incomodar e impressionar quem, tendo crianças a seu cargo, tem também o dever de se preocupar com a sua alimentação, impondo todas as restrições que sejam devidas.
O Luciano considera que o cartaz tem requintes de crueldade. Admito que possa haver crianças que, percebendo a mensagem, se sintam atingidas. Mas nada que se compare com ser tratado pelos amigos lá da escola e, se calhar, até pela professora, como o “gordo”, ou com ser sistematicamente excluído de actividades, grupos e brincadeiras, por essa razão. Esse “tratamento” faz parte do seu dia-a-dia e é possível que a criança nem consiga expressar o desgosto que isso lhe causa. Ou seja, só para os pais, tios, professores, etc., do miúdo gordo é que a crueldade está no cartaz.