Ontem, a meio do jantar, o meu filho perguntou à minha avó Lena como é que se chamavam os pais dela.
Ela respondeu: "Idalina e Manuel". Ele, pensativo, continuou: "Os teus pais já morreram?"
A minha avó olhou para mim muito aflita sem saber o que responder e lá decide dizer a verdade.
"Sim, os meus pais já morreram".
Ele reflectiu uns segundos e voltou a atacar: "Oh mãe, como é que se morre?"
Desta vez fui eu que olhei para a minha avó e não conseguindo encontrar melhor resposta, proferi esta frase estúpida: "Olha, é como se dormíssemos muito."
"Então" - perguntou ele imediatamente - "quando eu durmo muito, morro?"
"Não, não. Quando se morre, adormece-se e nunca mais se acorda" digo eu, já à beira do desespero. E depois remato: "Mas está descansado, que isso só acontece às pessoas muito velhinhas."
Ele, após uma pausa interminável, questiona: "Então a avó Lena vai morrer?"
A minha avó ficou azul e eu branca. Sem saber o que dizer mais, respondi atabalhoadamene: "Claro que não. Só as pessoas mais velhinhas que a avó Lena é que morrem" e a minha avó acrescenta: "Eu ainda vou viver muitos anos".
O diálogo acabou com esta última afirmação. Não sei se ele não fez mais perguntas por estar satisfeito com as respostas ou se pelo contrário, decidiu calar-se ao aperceber-se do desconforto das suas duas interlocutoras.
Seja como fôr, vou ter definitivamente de me preparar para as futuras conversas com ele sobre o assunto e pensar como é que se explica o fenómeno da morte a uma criança de três anos porque esta minha primeira prestação foi de facto medíocre.