Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Ensaio sobre o Ensaio Sobre a Cegueira

Podia ser um filme do Shaymalalan (designação carinhosa) mas, pelo menos, melhor que o “Acontecimento”. Cenários apocalípticos e metáforas, metáforas, metáforas. Gosto de metáforas. Noutro dia, a Meg e eu metaforizamos a ida para o lixo de uma carteira velha e a aquisição de uma carteira nova com grande sucesso (caso não te recordes, lembro-te que primeiro tens de comprar a carteira nova e depois quase não custa mandar fora a velha).

Voltando ao filme. Imaginando-me na posição da mulher do médico (Julianne Moore) – a única que vê, numa multidão de cegos encurralados - fui muito rápida a desejar-me tão cega quanto os outros todos. A degradação daquela comunidade forçada era bastante atenuada pelo facto de não (se) verem. E embora a cegueira contagiosa fosse a razão para estarem presos e abandonados, de quarentena, não é sugerido outro motivo para o total descalabro da organização social que não resulte da (maléfica) natureza humana. O tal de Saramago será de esquerda?

Por último, há umas cenas chocantes que eu dispensava mas o Meirelles ou mesmo o Shaymalalan não dispensam. E há também os santos nos altares com os olhos vendados, em mais uma metáfora, para mim incompreensível. Imagino que para o autor de “O Factor Deus” não exista cegueira maior do que a fé religiosa e, mesmo assim, continuo sem arranjar explicação para os santos de olhos vendados. Talvez lendo o livro ou indo comer qualquer coisa que já está na hora do almoço.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

«Groovin'», The Rascals

Passa-se isto mesmo:

Groovin', on a Sunday afternoon
Really couldn't get away too soon
I can't imagine anything that's better
The world is ours whenever we're together
There ain't a place I'd like to be instead of

Groovin', down a crowded avenue
Doin' anything we like to do
There's always lots of things that we can see
We can be anyone we like to be
And all those happy people we could meet just

Groovin', on a Sunday afternoon
Really couldn't get away too soon

We'll keep on spending sunny days this way
We're gonna talk and laugh our time away
I feel it comin' closer day by day
Life will be ecstasy, you and me endlessly

Groovin', on a Sunday afternoon
Really couldn't get away too soon

Inimigo público (2)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Inimigo público

No seguimento dos festivais de música, das competições desportivas e dos animais do jardim zoológico, as principais avenidas, praças e monumentos da capital irão adoptar o nome de grandes marcas. Estão já adjudicados o cristo samsung e a rotunda tmn. Quem pagar mais poderá mesmo adaptar o nome da cidade.

Acho óptimo que a Câmara não gaste um tostão com decorações de natal desde que os patrocinadores instalem decorações de natal e não apenas publicidade. No caso do Marquês de Pombal espero que a tmn tenha enchido os cofres de Lisboa.

Go with the flow

When you just don’t know what is going on and lay back to see what is going to happen...

domingo, 23 de novembro de 2008

Indispensáveis #22


Uma lareira na cozinha e tomam-se as refeições com vista para os laranjais de Campolide.

Digo sempre que nunca hei-de vender a minha casa. Nunca nunca. Mas noutro dia falei com pessoas mais experientes que me disseram que muita gente acha isso da sua primeira casa. Só que eu nunca hei-de vender a minha.

sábado, 22 de novembro de 2008

Mais coisas...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Boa ideia

Do Guilherme para resolver os meus problemas com o telemarketing. Agora experimentem ligar-me a ver como é. Vou optar por pedir o número de telemóvel para facilitar os contactos futuros.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sam Simpson

Seguindo a sugestão da Charlotte, aqui estou eu na versão personagem dos Simpsons. Em seguida, parto para Springfield onde me aguarda uma carreira fulgurante no cinema.

Entretanto, fiz um estudo que confirma a cientificidade do processo e que consistiu em utilizar esta foto e obter esta imagem simpsónica.

Quem é que eu gostava de ver nesta figura?
A Meg,
o Daniel,
a SR e a patrica,
a bichinha e o babe,
e o Edgar.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Pelicano?

Ontem, no intervalo de 15 minutos e à hora do jantar, ligaram-me duas vezes para vender qualquer coisa do Barclays. O telefone fixo começa a servir só para estas coisas mas às vezes ainda calha ser a minha mãe a ligar ou a Karma.

No segundo telefonema já estava um bocado incomodada e perguntei onde é que o Barclays tinha obtido os meus contactos. A resposta estava pronta: "através de uma empresa chamada Pelicano, é uma editora".

E onde é que essa Pelicano, de que eu nunca ouvi falar, arranjou o meu contacto? Ah isso como deve compreender não é da nossa responsabilidade. É sim da vossa responsabilidade que compram as listas com os dados e têm que se assegurar que podem ser usados para esta actividade abjecta chamada telemarketing que é quase tão eficaz para a venda de bens e serviços como as manifestações de professores hão-de ser para acabar com as avaliações dos ditos. Então voltaremos a ligar noutra ocasião. NÃO! Vai mas é apagar o meu contacto dessa lista. Com certeza. Imagino.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Separadores (era um bom exemplo)

Ele casa e fica estropiado. Estropiado pelo trabalho, diz o argumento. Ela dá o corpo para o recuperar, depois morre para o salvar e salva-o. Ele não percebe nada mas não é por mal e, por fim, vai à vida dele.

Deolinda

Este agrupamento musical de três rapazes e uma rapariga era o motivo para ir assistir ao concerto dos 10 anos da Fnac. Uma pessoa com esta idade tem de escolher bem as razões para sair de casa, em especial quando se trata de ir ao pavilhão Atlântico.

A banda justificou a aposta. No dia seguinte comprei o disco e tenho-me dedicado a promovê-lo. Paizinho, isto é a tua cara mas deixa-te estar que alguém se há-de lembrar de to oferecer. Ouvir mais aqui ou aqui.

A Rita Redshoes também não esteve nada mal. Chamou-me a atenção esta música que não é mais que mais uma versão do tema «My Favourite Things».

Janela

Naquele prédio amaldiçoado da avenida, fizeram uma janela que dá para a ponte 25 de Abril.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Humor

Ouvi uma conversa sobre o uso e o abuso do humor e apeteceu-me dizer umas coisas também. Cinco minutos de reflexão e esta memória que me persegue fizeram-me constatar que todas elas já tinham sido ditas:

  1. O tradicional "estava a brincar" dito logo após um certo tipo de comentário - violento - e, principalmente, após uma má reacção do outro, não é mais do que um "estou a dizer a verdade mas não tenho coragem de a assumir". [Huma]
  2. O humor e a destreza intelectual podem ser usados e interpretados como veículo de agressão. As agressões cometidas por esta via são toleradas pela lei (ocidental), enquanto que a violência física é um meio ilegal de agressão. E nós só jogamos se as regras forem estas. [moi-même]
  3. "Everything's a joke with you," he said. "Nothing's a joke with me. It just all comes out like one."[de «Like Life», Lorrie Moore]
  4. Mas a graça faz perdoar tudo, não é? [Miguel Esteves Cardoso em entrevista à revista LER de Novembro de 2008]

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Madrid - Monk

A Meg comprou em Madrid a 1ª época desta série televisiva dizendo que era para um trabalho da faculdade. Aprecio estes deveres escolares e também aquela bibliografia mais difícil que só é possível arranjar indo a Madrid pessoalmente.

No quarto emprestado da casa onde ficámos tínhamos televisão, leitores de vídeo e de DVD e mais uma ou duas caixas parecidas, talvez relacionadas com os canais por satélite, imensos cabos, fichas e cinco comandos. Pois a Meg teimou que havíamos de ver a série naquele mesmo serão e conseguiu pôr o equipamento a funcionar.

Adrian Monk is a brilliant San Francisco detective, whose obsessive compulsive disorder just happens to get in the way*. Vimos os três primeiros episódios, de 50 minutos cada, e gostei bastante. Mas nada de grandes entusiasmos; fui informar-me e parece que mais para a frente a série começa a aparvalhar. Registei um pequeno diálogo para reproduzir aqui:

Ele - I will never forget you.
Ela - You never forget anything.

É tal e qual, e não quer dizer que tenha menos valor por isso.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Vida de mãe - Episódio 50

Com seis anos, o meu filho está a descobrir o acto mágico de ler. Anda encantado a tentar descodificar todas as palavras que lhe aparecem à frente.

Hoje de manhã, o miúdo quis parar à saída do metro para ler um grafiti. Empenhado, depois de ensaiar para dentro, experimentou para fora: “Em Abril, sai à rua.” Eu pensei logo: “Estou feita”. No segundo seguinte:”Mãe, o que é que esta frase quer dizer?”

Meia assustada, meia divertida, tentei arranjar uma primeira versão dos acontecimentos que não fosse demasiado séria. Escusado será dizer que o meu relato gerou mais não sei quantas perguntas que só foram interrompidas porque já eram horas de dar um último beijo e deixá-lo no recreio da escola.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A minha avó Lena (cont.)

Ontem, depois de um passeio a pé pela zona da Expo, enfiámo-nos num centro comercial que eu abomino - o Vasco da Gama - eu, a querer ir embora desde o primeiro minuto, ela a querer ver lojas horas antes de ser internada.

E, no meio do nada, ou melhor, de um enorme ruído de fundo, a minha avó começou a dizer um poema para eu ouvir. No final, perguntou-me se me lembrava dele. Eu disse que não e ela respondeu-me que o tinha escrito para mim, há muitos anos. Fingi não ter ficado emocionada mas pedi que ela o escrevesse num papel para não me voltar a esquecer.

A minha avó Lena

São quase três da tarde e eu ainda não sei se a minha avó já saiu do bloco operatório. A intervenção não é complexa e o estado de saúde dela, apesar de tudo, não se encontra particularmente debilitado.

Mas, de repente, comecei a ter pensamentos estúpidos porque ela tem 78 anos, porque os médicos podem ter encontrado alguma coisa que não esperavam, porque, porque, porque.

Estou a ser obrigada a encarar o facto natural de ela ser muito importante para mim e para o meu filho (que estava preocupado com a eventualidade da (bis)avó ter dores).

sábado, 8 de novembro de 2008

Vida nocturna

Ontem de madrugada fui acordada por sonoras batidas na porta de casa. É possível que já estivessem a bater há alguns minutos. Levantei-me e lancei mão a tudo o que era interruptor até chegar à entrada, sem que nada acendesse.

Abri a porta sem medo, provavelmente por ainda estar a dormir, e deparei com três ou quatro bombeiros, fardados da bota ao capacete, com uma lanterna apontada na minha direcção: "houve uma fuga de monóxido de carbono, tivemos de desligar a electricidade do prédio e vimos saber se se sente bem.". Claro que comecei logo a sentir uma certa intoxicação mas não dei parte de fraca. Insistiram que deveria arejar a casa, abrir as janelas, e assim fiz apenas quanto à janela do quarto. Voltei para a cama.

No passeio à entrada do prédio, abriram uma vala onde estiveram a trabalhar a noite toda e parte do dia. De onde é que viria o monóxido de carbono? Não fosse o rádio a pilhas e não tinha havido musiquinha de manhã porque a electricidade só foi ligada às quatro da tarde.

Indispensáveis #21


É exactamente aquilo que parece

Este rádio a pilhas foi-me oferecido por volta dos meus 15 anos pela minha avó paterna. Nessa altura já me tinham passado dois walkmans e um tijolo pelas mãos, portanto o aparelho não fez sucesso.

Vinte anos depois, um pulinho, resolvi dar o leitor de cds, cassetes e rádio (muito lindo em azul) que animava as minhas manhãs na casa de banho, ao meu pai para utilização exclusiva na sua (nossa) casa de férias, onde passados sete verões ainda não existia nada que tocasse música.

Foi assim que, há mais de um ano, esta antiguidade ganhou notoriedade. Dia sim, dia não, penso em substituí-lo.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Separadores

São fases da vida bastante desconsideradas, os separadores. Defendo uma maior valorização dos separadores. Se tomarmos este filme por exemplo, e é um bom exemplo, são os momentos mais tranquilos da nossa existência. Então se arranjarmos uma banda sonora deste nível para os separadores, somos bem capazes de ter um dia ou outro em que acreditamos que a vida é fácil.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Madrid - As compras

Tinha a ideia de ir às compras. Comprar imensas coisas, gastar imenso dinheiro e menos IVA. A disposição demorou a arrancar. Era muita gente em todo o lado, os espaços excessivamente aquecidos, o corpo moído do passo-de-museu dos dias anteriores. Mas não desisti, empenhei-me e lá consegui trazer umas pecitas giras.

Uma dessas aquisições estreei-a na 3ª feira. A meio da manhã fui visitada por uma amiga e ex-colega de trabalho, que veio apresentar-me a filha de 3 meses, e a bebé trajava exactamente a mesma indumentária que eu. O assunto foi comentado por todos os que se cruzaram comigo ao longo do dia.

Outra roupita nova vesti-a ontem pela primeira vez. Ia toda contente ao volante da viatura quando reparo num anúncio do turismo de Espanha afixado na traseira do autocarro à minha frente. A divulgação promove as lojas de moda espanholas e, na foto do anúncio, uma montra destaca a minha farpela recém-adquirida. O meu vestido novo escarrapachado na traseira dos autocarros de Lisboa. Sim, porque depois deste primeiro embate cheguei a ver o mesmo anúncio mais duas vezes. Já eram oito da noite e seguia pela Rua da Escola Politécnica quando ganhei capacidade de reacção, pelo que não consegui arranjar melhor do que isto como comprovativo.

Uma coisa é certa, comprei "o" recuerdo. Agora estou com algum receio em usar os demais regalos.

Madrid - O livro

Apesar da agitação e do respectivo cansaço (fiquei com as pernas doridas de tanto andar a pé) ainda deu tempo para ler o livro Um psicólogo no campo de concentração de Viktor Frankl.

O seu testemunho é brutal.

"Os golpes da picareta faziam saltar em mil bocados a terra gelada. Os cérebros, porém, mantinham-se congelados. E o meu espírito continuava apegado à figura da minha mulher. Falei-lhe e ela falou-me. Recordei-me então de que ignorava se ela continuava viva; mas, pelo menos acabava de aprender uma coisa: o amor pouco tem que ver com a existência física de um ser humano. Pesa de tal modo o ser espiritual da pessoa amada, o seu “ser assim” (como lhe chamam os filósofos) que a sua “existência”, o seu “estar-aqui-comigo”, inclusivamente a sua vida física, o seu “estar viva”, deixam de constituir objecto de discussão."

"Só quem viveu num KZ pode compreender até que ponto um prisioneiro chega a convencer-se da radical carência de valor da vida humana individual.

Vejamos, por exemplo, como se passavam as coisas quando se tratava de organizar um transporte de doentes. Estes eram atirados com a maior sem-cerimónia para um carro de duas rodas que, depois, era arrastado quilómetros e quilómetros pelos próprios prisioneiros. Ora se acontecia que alguns morriam antes de serem carregados, punham na mesma os seus cadáveres nas carroças. Era preciso que a lista estivesse completa. A lista era o principal. O homem era reduzido a um valor numérico e nada mais; pouco importava que estivesse vivo ou morto."

"De tudo isto, podemos deduzir que existem no mundo duas raças diferentes de seres, e só essas duas: a “raça” das pessoas decentes e a das indecentes. E ambas estão difundidas. Introduzem-se em todos os grupos, e não há grupo que se componha apenas de pessoas decentes ou exclusivamente de indecentes, isto é, não há nenhum grupo que seja de “raça pura”.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Madrid - Mais pintura

Degas
Joaquin Sorolla

Na sexta-feira, logo depois de chegarmos e largarmos as malas em casa da nossa querida anfitriã, fomos apanhar o metro para dar um primeiro passeio no centro de Madrid.

Entretanto, já andávamos nós pelo paseo de recoletos, quando a chuva nos empurrou para dentro do edificio da Fundação Mapfre, onde estão a decorrer três exposições excelentes (e ainda por cima, gratuitas): uma do Degas, outra sobre pintura espanhola do início do século XX e ainda uma apresentação de fotografias, de Nicholas Nixon intitulada "Las hermanas BROWN 1975-2007."

Madrid - Free hug

Ao final da tarde de sábado, no meio de uma multidão:

"Dás-me um abraço?"

"Claro!"

Madrid - Os pequenos almoços e os lanches

Por falar nisso, usámos e abusámos. Adoro aqueles cappuccinos. Os donuts são óptimos e os brownies de chocolate também.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Madrid - Pessoal com formação


Afixado no interior de um Starbucks em Madrid

Por falar nisso, já abriu o primeiro Starbucks quase em Lisboa. Fica ali mesmo na N117. Não sei qual será a estação de metro mais adequada.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Madrid - O Prado II

Depois do Rembrandt e de um almoço simpático no restaurante do museu, fomos ver os clássicos que fazem parte da colecção permanente e, em particular, admirar o fabuloso tríptico O Jardim das Delícias do Bosch.

A imagem é um pormenor do Inferno, uma das três partes do quadro. A parte central que representa a terra ou a vida humana é esta.

Madrid - O Prado I

Ao bater do meio-dia de sábado, com os bilhetes previamente comprados na mão, chegámos ao Prado para ver os cerca de trinta quadros do Rembrandt actualmente expostos naquele museu (até 6 de Janeiro de 2009).

Como seria de esperar, o povo era muito. Demasiado. Não estava à espera de ter de me juntar, já dentro da sala, a um comboio de gente e aguardar pacientemente a minha vez para poder contemplar cada uma daquelas obras de arte.

Em todo o caso, para quem gosta deste pintor como eu, valeu muito a pena. No meu entender, esta exposição justifica, por si só, uma deslocação à capital espanhola.

Madrid - Razões de sobra

Muita pintura, a inestimável companhia da Sam e a preciosa ajuda da minha irmã mais nova motivaram uma visita de três dias àquela cidade.