Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Madrid - O livro

Apesar da agitação e do respectivo cansaço (fiquei com as pernas doridas de tanto andar a pé) ainda deu tempo para ler o livro Um psicólogo no campo de concentração de Viktor Frankl.

O seu testemunho é brutal.

"Os golpes da picareta faziam saltar em mil bocados a terra gelada. Os cérebros, porém, mantinham-se congelados. E o meu espírito continuava apegado à figura da minha mulher. Falei-lhe e ela falou-me. Recordei-me então de que ignorava se ela continuava viva; mas, pelo menos acabava de aprender uma coisa: o amor pouco tem que ver com a existência física de um ser humano. Pesa de tal modo o ser espiritual da pessoa amada, o seu “ser assim” (como lhe chamam os filósofos) que a sua “existência”, o seu “estar-aqui-comigo”, inclusivamente a sua vida física, o seu “estar viva”, deixam de constituir objecto de discussão."

"Só quem viveu num KZ pode compreender até que ponto um prisioneiro chega a convencer-se da radical carência de valor da vida humana individual.

Vejamos, por exemplo, como se passavam as coisas quando se tratava de organizar um transporte de doentes. Estes eram atirados com a maior sem-cerimónia para um carro de duas rodas que, depois, era arrastado quilómetros e quilómetros pelos próprios prisioneiros. Ora se acontecia que alguns morriam antes de serem carregados, punham na mesma os seus cadáveres nas carroças. Era preciso que a lista estivesse completa. A lista era o principal. O homem era reduzido a um valor numérico e nada mais; pouco importava que estivesse vivo ou morto."

"De tudo isto, podemos deduzir que existem no mundo duas raças diferentes de seres, e só essas duas: a “raça” das pessoas decentes e a das indecentes. E ambas estão difundidas. Introduzem-se em todos os grupos, e não há grupo que se componha apenas de pessoas decentes ou exclusivamente de indecentes, isto é, não há nenhum grupo que seja de “raça pura”.

2 Comments:

Blogger Sam said...

Pensei que "o livro" fosse o calhamaço que lá fomos comprar.

6:36 da tarde  
Blogger Meg said...

Ainda bem que falas no calhamaço porque me fez relembrar a sensação óptima de missão cumprida quando encontrei o livro naquela livraria gigante.
Foi mais um dos aspectos que correu bem nesta ida a Madrid. Aliás, verdade seja dita, nada correu mal.

10:41 da manhã  

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