Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

sábado, 16 de dezembro de 2006

Ser sozinha

Antes de partirmos, na altura de distribuir os bolos que cada um trazia de casa da avó, um dos primos casado-com-filhos olhou escandalizado para a minha torta de chocolate e exclamou: “Mas tu és sozinha!”.

Num primeiro momento, pareceu-me um insulto. Depois, pelo contrário, achei que me estava a dizer que as agruras da vida de família eram compensadas nestes momentos de divisão de víveres de qualidade superior. E que era uma injustiça dar uma torta inteirinha a quem leva uma vida fácil.

Claro que, para os primos de páscoas a natais, sozinho é quem sozinho aparece em casa da avó. Sem prejuízo destes detalhes, existe um estigma que raramente consigo pôr ao meu serviço. Se alego que sou sozinha para inspirar compaixão (e arranjar ajuda nas tarefas pesadas), logo me falam da sorte que tenho. Se opto por me gabar da liberdade de movimentos, de imediato inspiro toda a pena do mundo.

Mas aquilo que mais me intrigou na expressão do meu primo foi isto: quando é que “estar sozinha” passou a “ser sozinha”?

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

E alguma vez foi de outra forma?

5:44 da tarde  

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