Manuela, não insistas!
Tudo se passou à entrada do Parque do Alvito, tinha eu uns 6 anos. Parámos para comprar castanhas assadas e, quando me preparava para atacar o meu quinhão, sou interrompida pelo senhor Presidente da República a perguntar-me se lhe dava uma castanha. Claro que não dava coisa nenhuma.
Estavam os meus pais, calculo que divertidíssimos, a fingir-se chocados com a minha resposta e já a esposa do Presidente envidava esforços para satisfazer o apetite do General. Ora, esta iniciativa não se revelava tarefa fácil uma vez que o vendedor de castanhas não aceitava receber o dinheiro que esta cliente especial lhe queria entregar. A esposa não se conforma e, já com as castanhas na mão, inicia a perseguição do senhor à volta do respectivo carro-assador. É então que o General, perturbado com aquela algazarra, lança a intimação: “Manuela, não insistas!”. Parou tudo. Endireitaram-se as costas, sustaram-se as respirações, e só ao fim de alguns minutos foi recuperada a fala dos circunstantes.
Este episódio, que recordo com frequência, deixou-me dois ensinamentos. Primeiro, a não insistir em declinar a generosidade alheia, manifestada de forma espontânea e desinteressada. Segundo, a rematar as pretensões de terceiros de recusarem as minhas ofertas com um “não insistas” proferido em tom militar. Tem resultado bem.