Serendipity
The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]
sábado, 31 de março de 2007
terça-feira, 27 de março de 2007
domingo, 25 de março de 2007
Manhã na cama (4)
Nook - That oh so comfortable resting spot where a girl can nestle her head when lying with her boy. It's that little spot between his neck and shoulder where she finds comfort and security as she drifts off to sleep. [do Dicionário Urbano]
domingo, 11 de março de 2007
A vida continua (1)
"Dois amigos meus separaram-se. O amor tinha-se acabado lá em casa. Ficaram amigos e sem ponta de rancor. Apenas decidiram seguir vidas diferentes sem ter de dormir um com o outro. Ele tem uma namorada e ela também se apaixonou, mas nunca contaram um ao outro. Ou seja, viveram juntos dez anos, partilharam cólicas, dores, entusiasmos, um nascimento (!), mas na hora de cada um ir à sua vida não ficou nada para dizer, nem a vontade de partilhar a vida que se segue. Partiu dele esta indiferença e ela apanhou a mesma boleia. Sabem por amigos que ambos têm agora outras relações, mas nunca ousaram tocar no assunto quando falam ao telefone sobre o filho que têm juntos. O que terá feito com que ele nunca lhe tivesse contado que está apaixonado? O facto de ela conhecer a mulher em questão? Talvez a isto se chame cobardia. Ou talvez seja só desinteresse. É um arrumar de contas sem puxar muito pela cabeça. É como mandar cem sms no Natal mesmo que lá pelo meio esteja a ex-mulher...
Por mais anos que viva, vou continuar sem compreender como é que duas pessoas que se amaram não têm depois a coragem de dizer coisas tão simples como:"Estou apaixonado e queria que soubesses antes de todos", ou "apaixonei-me outra vez e estou muito feliz." Em vez disso, escudam-se num silêncio, e esse sim, pode fazer esquecer o que de bom se viveu durante anos.
Não gosto muito de generalizar, por poder ser injusta com as excepções (os excepcionais?), mas nisto de abrir o coração e falar sem medos, os homens são muito piores do que as mulheres. Os homens vieram com este defeito de fabrico: a intimidade é um fardo. Partilhá-la é aterrador. Partilhá-la com a ex-mulher que já não é preciso seduzir para ter sexo, é ainda pior. Por isso, toca a viver para a frente e esquecer o passado. Se ela souber por outros, tanto faz. Se os outros meterem a pata na poça porque acabaram de contar à amiga que o ex-marido dela anda com a amiga deles, paciência. Ela que se desenrasque.
O que eles não sabem - talvez o defeito de fabrico não permita saber atempadamente - é que normalmente as coisas tendem a repetir-se. O mal, como o bem, é-nos sempre devolvido. E a ironia não se compadece com os momentos mais felizes da nossa vida".
Excerto da crónica "O sexo e a Cidália" da NS'de 3 de Março de 2007.
Viver também é morrer
Por ser um tema que me interessa, o namorado de uma amiga sugeriu-me a leitura dos livros de Marie de Hennezel, psicóloga da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital Universitário de Paris.
Já li o "Morrer de Olhos Abertos" e estou agora a acabar o "Diálogo com a Morte", de onde retirei o seguinte excerto por achar que sintetiza uma das ideias-chave da autora, com a qual eu concordo o mais possível.
"Quando nada mais resta fazer, podemos ainda amar e sermos amados, e muitos moribundos, no instante de deixarem a vida, nos têm lançado esta mensagem pungente: não passem ao largo da vida, não passem ao largo do amor. Os últimos instantes da vida de um ser amado podem constituir a ocasião de ir o mais longe possível com essa pessoa. Quantos de nós aproveitam essa ocasião? Em lugar de olhar de frente a real proximidade da morte, fazemos de conta que ela não vai chegar. Mentimos ao outro, mentimos a nós próprios e, em vez de dizer o essencial, em vez de trocarmos palavras de amor, de gratidão, de perdão, em vez de nos apoiarmos uns aos outros para atravessar esse momento incomparável que é o da morte de um ser amado, pondo em comum toda a sageza, o humor e o amor de que o ser humano é capaz para enfrentar a morte, em vez de tudo isso, esse momento único, essencial da vida, é rodeado de silêncio e solidão."
sábado, 10 de março de 2007
terça-feira, 6 de março de 2007
Gente maluca
Algures na pré-adolescência diagnostiquei-me dois problemas do foro neurológico: autismo e esquizofrenia. O autismo foi-me transmitido por um telefilme que retratava um “caso da vida real” e que passava repetidamente, ao qual, logo revelando sinais da maleita, eu repetidamente assistia. Só retenho a imagem do miúdo a rodar um prato e a abanar as mãos, e a cena em que ele pede sumo de laranja. Na mesma altura, tomei conhecimento da esquizofrenia através de um filme fabuloso com a Joanne Woodward, também baseado numa história verídica. A perturbação da personalidade múltipla foi, então, a explicação óbvia para a minha “intensa vida interior”. Deve haver uma fase em que contraímos as doenças ou os poderes dos protagonistas cinematográficos, e eu nunca achei que conseguisse voar.
Mais tarde comecei a perceber que de autista e de esquizofrénico todos temos um pouco (de génio nem por isso). Diariamente repetimos os procedimentos do dia anterior. Vestimos cada peça de roupa pela ordem pré-determinada. Vamos ao mesmo café, almoçamos nos mesmos sítios (três ou quatro diferentes, “para variar”). Fazemos sempre o mesmo percurso para chegar aos nossos locais de referência, passo por passo. Se os nossos trajectos ficassem marcados no chão, hoje em dia já seguiríamos por um carreiro fundo de tão gasto. A isto acrescentámos o iPod, the ultimate act of self-absorption. E todos, os que somos automobilistas, temos a nossa própria zona de estacionamento em cada centro comercial frequentado, ou não?
Quanto à esquizofrenia, temos o grilo falante, o elefante falante, a fuinha falante (um predador oportunista), o burro falante; estão a ver a ideia. Os bichos, além de por vezes tomarem conta de nós (no bom e no mau sentido), reúnem-se com regularidade, organizando Prós & Contras sobre vários temas inseridos na magna disciplina intitulada “Esta Criatura Não Tem Remédio”. Os debates são interrompidos, de forma abrupta, quando a “criança interior” decide que tudo se resolve com meio quilo de chocolate ou um ovo kinder (esqueçam) ou uma playstation ou uma série em dvd. E que, se não resolver, sempre entretém.
Depois há pessoas que não são nada disto. Gente maluca, claro.
segunda-feira, 5 de março de 2007
E se um desconhecido lhe oferecer flores?
Passa-se que padeço de alguma dificuldade na interacção com desconhecidos salientes. Personagens funcionais que, de um momento para o outro, debitam texto que não consta do guião. Então, obrigam-me a olhá-los e a ouvi-los, para tentar perceber porque é que não estou a conseguir comprar o jornal conforme planeado. Engasgo, fico desorientada, encaro o meu autismo. Mas, passado o primeiro embate, esforço-me por entrar no espírito. O diálogo prosseguiu:
- E o Expresso, tem? ...com as notícias do mês passado, ha, ha.
Piadas para autistas
“Charlie Babbitt made a joke.” Ocorre-me com frequência esta frase do filme «Rain Man». Dustin Hoffman, autista, reconhece uma habilidade do seu irmão, Tom Cruise, como tratando-se de uma piada e anuncia, no mesmo tom monocórdico de sempre: “Ha, ha, Charlie Babbitt made a joke.”.
Assim, este Sábado, num ponto de venda não habitual:
- Tem o Diário de Notícias?
- Só com notícias de ontem.
- Não tem o jornal de hoje?
- Tenho, mas o jornal de hoje traz as notícias de ontem.
- (pausa para reflectir) Ah, era uma piada. (ênfase no “era”)
quinta-feira, 1 de março de 2007
Pub
Imaginemos um caso de todos os dias. A pessoa vai ao site dos CTT confirmar a data de entrega de uma carta registada. São sete da tarde, já tem um ratito no estômago. Nisto, no canto superior direito, aparecem uns mui atraentes quadrados de chocolate. O que fazer? Envia-se um chocotelegram e não se pensa mais nisso.