Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

domingo, 11 de março de 2007

A vida continua (1)

"Dois amigos meus separaram-se. O amor tinha-se acabado lá em casa. Ficaram amigos e sem ponta de rancor. Apenas decidiram seguir vidas diferentes sem ter de dormir um com o outro. Ele tem uma namorada e ela também se apaixonou, mas nunca contaram um ao outro. Ou seja, viveram juntos dez anos, partilharam cólicas, dores, entusiasmos, um nascimento (!), mas na hora de cada um ir à sua vida não ficou nada para dizer, nem a vontade de partilhar a vida que se segue. Partiu dele esta indiferença e ela apanhou a mesma boleia. Sabem por amigos que ambos têm agora outras relações, mas nunca ousaram tocar no assunto quando falam ao telefone sobre o filho que têm juntos. O que terá feito com que ele nunca lhe tivesse contado que está apaixonado? O facto de ela conhecer a mulher em questão? Talvez a isto se chame cobardia. Ou talvez seja só desinteresse. É um arrumar de contas sem puxar muito pela cabeça. É como mandar cem sms no Natal mesmo que lá pelo meio esteja a ex-mulher...

Por mais anos que viva, vou continuar sem compreender como é que duas pessoas que se amaram não têm depois a coragem de dizer coisas tão simples como:"Estou apaixonado e queria que soubesses antes de todos", ou "apaixonei-me outra vez e estou muito feliz." Em vez disso, escudam-se num silêncio, e esse sim, pode fazer esquecer o que de bom se viveu durante anos.

Não gosto muito de generalizar, por poder ser injusta com as excepções (os excepcionais?), mas nisto de abrir o coração e falar sem medos, os homens são muito piores do que as mulheres. Os homens vieram com este defeito de fabrico: a intimidade é um fardo. Partilhá-la é aterrador. Partilhá-la com a ex-mulher que já não é preciso seduzir para ter sexo, é ainda pior. Por isso, toca a viver para a frente e esquecer o passado. Se ela souber por outros, tanto faz. Se os outros meterem a pata na poça porque acabaram de contar à amiga que o ex-marido dela anda com a amiga deles, paciência. Ela que se desenrasque.

O que eles não sabem - talvez o defeito de fabrico não permita saber atempadamente - é que normalmente as coisas tendem a repetir-se. O mal, como o bem, é-nos sempre devolvido. E a ironia não se compadece com os momentos mais felizes da nossa vida".

Excerto da crónica "O sexo e a Cidália" da NS'de 3 de Março de 2007.

2 Comments:

Blogger JP said...

A Cidália era a grande amiga da onça, como se prova. As diferenças entre o que as mulheres dizem e fazem umas às outras, têm um mundo a separá-las, o da intimidade.

2:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Confusões habituais el alguém que por acaso se chama Cidália! Então se cada um segue o seu caminho que interesse tem lá isso? Se falam sobre o filho falam do único assunto importante entre eles. O resto já faz parte de outra vida! Confusão so na cabeça da Cidália!

10:25 da tarde  

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