Eu não tenho, infelizmente, as fabulosas qualidades mnésicas da Sam e, portanto, não é frequente lembrar-me de episódios da minha infância e adolescência com precisão suficiente para os poder relatar sem correr o risco de estar a contar uma história que pouco tem a ver com a realidade dos factos.
Em todo o caso, de vez em quando, lá me surge uma reminiscência ou outra. Uma delas está relacionada com um filme que vi em miúda (aos treze anos, talvez). A história impressionou-me de tal modo que o tempo foi passando sem eu nunca me esquecer daquele homem que de dia para dia ficava cada vez mais pequeno, ao ponto de viver numa caixa de fósforos.
Mas perdi a lembrança do título.
E hoje, decorridos mais de vinte anos, ao ler o colunista João Lopes (que tem ar de ser um dos fulanos mais sisudos do jornalismo português), o nome de um filme citado por ele chamou-me a atenção: The Incredible Schrinking Man. Fui bisbilhotar. É o tal! Sem sombra de dúvida. A preto e branco. De 1957. Realizado por um senhor chamado Jack Arnold.
Ainda me lembro de nessa ocasião, apesar de muito nova, ter ido sozinha ao cinema (um hábito que ainda hoje me dá prazer). Eu conhecia bem a sala que se situava a uns cinco minutos a pé da casa onde vivia e que tinha uma programação muito própria, não necessariamente alinhada com as estreias da altura.
Saí completamente desconcertada. É que o filme termina tão misteriosamente como começa, com umas nuvens no céu a moverem-se. Não se percebe muito bem o que acontece ao tal homem, parece que ele acaba por se desintegrar de tão minúsculo. É muito esquisito mas eu não achei mau. Além disso, os efeitos especiais pareciam bestiais para um filme tão antigo.
Enfim, isto não interessará nada mas soube-me bem recordar.