O Deus de Saramago
Gosto bastante de racionalizações sobre a religião pelo exercício absurdo e inconsequente em que consistem. Assim como gosto de falar sobre as possibilidades da amizade entre homens e mulheres e adoraria dançar sobre arquitectura mas ainda não consegui pô-lo em prática.
Não sou católica mas li o velho e o novo testamentos. Tinha uns 16 ou 17 anos e a minha mãe, que não é católica, andava a implicar comigo porque eu falava como se soubesse imenso do assunto só por conhecer de cor o musical «Jesus Christ Superstar». Não percebi nada da Bíblia, foi como ler um livro em alemão: conhecia a maioria das palavras mas não descortinava o sentido das frases nem conseguia acompanhar o desenrolar da acção.
Os recentes comentários de Saramago sobre o Deus da Bíblia, que "é vingativo e má pessoa", fizeram-me lembrar esta interpretação que li há cinco anos:
A nossa primeira (e, tristemente, muitas vezes a única) noção da natureza de Deus é uma simples extrapolação da natureza dos nossos pais, uma simples mistura dos carácteres das nossas mães e pais ou dos seus substitutos. Quando se tem pais afectuosos e tolerantes, é provável que acreditemos num Deus afectuoso e tolerante. E na nossa perspectiva adulta, o mundo parecerá ser tão acolhedor como a nossa infância. Se os nossos pais são ríspidos e punitivos, provavelmente cresceremos com um conceito de um deus-monstro ríspido e punitivo.
[«O Caminho Menos Percorrido», M. Scott Peck, pág. 209]
No meu caso, apesar do ilustrativo episódio da Parker de tinta azul (1), "tanto o meu deus como eu fomos, ao longo do tempo, mudando de voz, de tom e de posição relativa."(2).
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