O peso da literatura
Jealous lovers are more respectable, less ridiculous, then jealous husbands. They are supported by the weight of literature. Betrayed lovers are tragic, never comic.*
[Nada a dizer sobre o conteúdo literal deste excerto. O marido ciumento é ridículo e cómico; o amante ciumento é respeitável e trágico. A razão está na forma como os respectivos papéis têm sido caracterizados pela literatura. Mas:]
Estudos indicam que já ninguém faz o mínimo esforço para fingir que é feliz. Pelo contrário. Uma pessoa sem eternas angústias e permanentes insónias não tem consistência, falta-lhe o peso da literatura. O que está a dar é andar deprimido, cansado, frustrado, e dizê-lo cantando a toda a gente. Há uma espécie de orgulho novo-rico no estado de atormentado, incompreendido, mal-amado. Diz-se agora que "fracassar é muito mais difícil"; fala-se em "coragem para desistir". É o que dá o peso da literatura (e do cinema). O peso da literatura dá a volta ao texto. Os tristes são “interessantes”; disputa-se o fatalismo, a solidão, a incompreensão. Eu gosto mais de não ter angústias nem insónias ou, pelo menos, de o negar cantando a toda a gente. Eu gosto de dizer que gosto do natal, por exemplo. E acho que até gosto mesmo do natal, apesar de não ser nisso sustentada pelo peso da literatura.
[*Graham Greene, «The End of the Affair» - isto do "peso da literatura" também me fez lembrar aquela conversa do Christian vs. Cyrano. entretanto, confesso-me vítima de uma estranha obsessão por parêntesis rectos.]
1 Comments:
compreendi-te: too much love will kill you...isso dá cá uma angústia.
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