Diários
Nunca tive um diário e sei bem porquê. É evidente que o papel não guarda segredos e, pior, não tem discernimento sobre a quem transmite a informação que contém.
Em 1987, no meu aniversário, ofereceram-me uma agenda fantástica da Mafalda. A agenda tinha dimensão para escrever umas linhas em cada dia e, ao longo do ano lectivo de 87/88, fui apontando os eventos mais relevantes, embora sem qualquer tipo de reflexão. Mesmo assim, alguns factos eram anotados com recurso a uma amálgama de iniciais e abreviaturas que – é verdade – ainda hoje consigo decifrar. Depois desta única experiência nunca mais tive nada do género.
Há coisa de uns três ou quatro anos, lembrei-me desta agenda e verifiquei que felizmente conseguiu sobreviver às minhas cíclicas “limpezas de passado”. Folheei-a e deparei-me com a letra pavorosa que tinha (ainda pior do que a actual, mas como já quase não a uso) e com umas personagens do antigamente que faziam agora parte do meu imaginário.
No entanto, fui confrontada com algo que me deixou muito mais perplexa: a letra da minha mãe. Não só se tinha dedicado a emendar os meus erros ortográficos, como tinha espalhado pontos de interrogação à frente das minhas notas misteriosas, e ainda escreveu novas entradas relatando os seus próprios eventos nos dias respectivos. Analyze this!
[Para a SR que me fez recordar esta história a propósito deste seu post.]
2 Comments:
E ainda por aí há quem diga que não existe forma melhor de nos vermos, a não ser através de uma imagem/fotografia...
Outra coisa:
Pior do que um simples diário de criança não ter bastante discernimento para se revelar à pessoa certa, é não haver nada que se possa confiar a um simples diário...
Acredita, bem pior!
Thanks! Gostei especialmente porque também eu tive uma dessas agendas da Mafalda e foi uma das tentativas mais próximas de diários com pés e cabeça que alguma vez tive.
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