Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Sobre mudar o mundo

”Não existe um prazo para mudarmos o mundo. Aquilo que importa realmente é começar. Se é verdade que uma viagem de mil quilómetros começa pelo primeiro passo, então o primeiro passo é libertarmo-nos do nosso medo e do isolamento e começar a praticar actos de gentileza, sejam eles fortuitos ou planeados, grandes ou pequenos, e fazê-lo todos os dias.

A mudança da natureza do mundo em que vivemos, tão cheia de violência, concorrência e ódio, não ocorrerá só com os esforços de uns quantos iluminados, mesmo que estes sejam poderosos líderes mundiais. Pelo contrário, serão os actos de gentileza e compaixão, partilhados no dia-a-dia entre as pessoas dentro de pequenos grupos, que poderão trazer a mudança e transformar o mundo num local mais suave e agradável. As pessoas terão de compreender que somos todos iguais, que somos todos o mesmo, que todos nós lutamos por um pouco de paz, de felicidade e segurança no nosso quotidiano. Não podemos continuar a lutar e a matarmo-nos uns aos outros.

Os nosso filhos observam-nos muito atentamente. Eles modelam-se a si próprios a partir do que observam em nós: os nossos comportamentos, os nossos valores e as nossas atitudes. Se existir ódio em nós, se formos violentos, eles tornar-se-ão iguais a nós. Uma das principais missões de que estamos revestidos é transmitir aos nossos filhos, logo desde a infância, os nossos verdadeiros valores e os comportamentos adequados. Os bebés observam-nos atentamente e a sua capacidade de compreensão excede bastante as nossas ideias a esse respeito.

Recordo-me de ter lido há alguns anos sobre os índios Hopis, uma tribo nativa americana. No seu sistema educativo, se um aluno não soubesse responder a uma pergunta ao professor, nenhum outro aluno ergueria o braço para responder a essa pergunta. Isso seria considerado uma falta de educação e um gesto muito pouco civilizado. Nenhum dos colegas sentia necessidade de impressionar o professor com o seu brilhantismo e o facto de alguém querer brilhar à custa de um dos seus pares seria visto como uma barbaridade.

Como é óbvio, nas escolas modernas do nosso mundo ocidental “civilizado”, haveria logo um mar de braços levantados para beneficiarem da falha do colega, para galgarem uns por cima dos outros na tentativa de alcançarem o topo. Ensinam-nos a sermos competitivos, a não termos contemplações e a ignorar completamente os sentimentos daqueles que atropelamos. Esquece a humilhação do colega que não sabe a resposta. Aproveita a oportunidade para impressionar o professor.

Estas são as sementes da violência plantadas em nós quando ainda somos crianças pequenas. É possível despertar, compreender a natureza destas ervas ruins semeadas em nós e arrancá-las pela raiz. Esse processo implica uma tomada de consciência da nossa natureza mais profunda e não é um processo fácil.”

Excerto do livro A divina sabedoria dos Mestres de Brian Weiss.