Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

terça-feira, 9 de maio de 2006

Jazigos

Gostei de ler o artigo da «Pública» a propósito dos 150 anos do nascimento de Freud. Escreveram sobre a psicanálise na óptica do utilizador: “O compositor António Pinho Vargas, referência da música contemporânea portuguesa, deitou-se no divã 45 minutos de cada vez, várias vezes por semana, durante seis anos.” e deu o seu depoimento à revista. E também na óptica do programador, com entrevistas a dois ou três psicanalistas.

Agradaram-me os comentários de António Pinho Vargas sobre o assunto. Transmitiu a imagem de alguém que assimilou os prós e os contras, como quem diz que a psicanálise foi uma boa terapia à falta de melhor. Gostei da sua alusão à “fase em que se tornou "psicanalista" dos amigos ("há sempre essa fase, deve ser uma chatice para eles")” e da relevância que deu ao facto de lhe caber a ele “pôr fim à coisa, ou seja, encerrar a análise”, reconhecendo que “demorou muito a compreender” que assim era.

Aquilo que me passou a desagradar na psicanálise, e que desconhecia por completo até ver este artigo, foi o ambiente dos espaços onde decorrem as sessões, exibido nas fotografias que acompanhavam o texto. Salas na penumbra com nuvens de fumo, uma decoração pesada e muito escura, divãs e cadeirões em couro, paredes forradas a cortiça. Um pavor digno de proporcionar muitos pesadelos. Segundo a descrição de uma destas salas: “Cá dentro é um espaço sem dia nem noite, sempre de estores corridos, com tapetes persas, versos sufis, pintura moçambicana, máscaras e vidros venezianos, um guarda-fogo chinês, estatuária africana, sul-americana, eslava, egípcia, greco-romana.”.

Analisam-se, neste artigo, as diferentes posições quanto à questão de o modelo clássico de psicanálise estar morto ou não e uma coisa é certa: os consultórios parecem jazigos.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Na psicanálise não existe tempo. É natural que se pareça com a morte.

1:02 da tarde  
Blogger Sam said...

A tese é interessante (algo romântica) mas estou em crer que cada sessão tem os minutos bem contados.

1:22 da tarde  

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