Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

sexta-feira, 10 de setembro de 2004

Primária

Na 3ª classe a professora chamou-me ao quadro assumindo logo o ar de quem sabe um segredo e vai desvendar um mistério. Disse-me para escrever “faca”. Virada para a superfície negra e enorme, de costas para os outros miúdos todos, de giz na mão com o braço suspenso no ar e o tempo também. Qual - entre o talher e o animal – qual é com “F” e qual é com “V”? Que som faz o “F”? Que som faz o “V”? Rápido. A cabeça encravou e a mão escreveu qualquer coisa. Seguiu-se a exibição de outras «provas» semelhantes. A professora tinha um ar triunfante mas ninguém se ria.

Em Novembro do ano passado, o facto de um psicólogo infantil ter diagnosticado uma particularidade chamada “pensamento visual” a uma criança, foi prontamente desvalorizado: “As tuas professoras da primária também insistiam que eras disléxica e afinal não tinhas problema nenhum”. O inexistente «problema» seria preguiça ou talvez, outro mais temido, burrice.