Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

segunda-feira, 20 de setembro de 2004

Coisas

Acho que quem reclama por causa de traduções é demasiado sofisticado, a atirar para o picuinhas, tirando quando sou eu. Cheguei à conclusão que acho isto porque: (i) leio muito pouco; (ii) o que leio em português foi, por regra, originalmente escrito em português; e (iii) quando leio livros traduzidos e reclamo da tradução é porque a tradução se assemelha a uma pasta viscosa que escorrega e alastra e se interpõe entre mim e aquilo que o autor pretende dizer-me, de modo que já não se consegue ver mais nada senão aquilo; ou seja, não é um pormenor.

Não é um pormenor, por exemplo, que tenham posto o Calvin a dizer que a sua filosofia de vida é “procurar o número um”, do inglês “look out for number one”. É raro encontrar livros de comics no original (note-se que só me interessa o original se o original for em inglês). De vez em quando apanho uns na Fnac mas parece-me sempre que foi por acaso, que nem era suposto aquele livro estar ali àquela hora em que eu o apanhei. Enfim, comprar na internet, não é? Mas não: do Calvin e do Garfield tenho alguns em inglês mas todos comprados lá fora, como quem diz fui ao estrangeiro, comprei-os numa livraria e trouxe-os; o resto tenho tudo em português, excepto o Mutts com o qual se deram dois acasos e mais uma história de uma encomenda que não era para mim e passou a ser.

O “resto” inclui o Zits, o Fox Trot, a Cathy, o Adam, entre outros. O autor do Adam é o Brian Basset e finalmente estamos a chegar à razão de ser desta lengalenga. O Brian Basset tem agora (desde Maio) uma nova série chamada «Red and Rover». Quando fiz a revista aos comics deste fim-de-semana, lá estava, editado pela Gradiva como é costume. Ora, a revista aos comics consiste em inspeccionar duas ou três tiras ao calhas, de cada nova edição, sem aviso prévio. Só li uma tira, dizia assim o cão: “vi um esquilo e foi superior a mim.”. No quadradinho seguinte pergunta o miúdo: “tu gostas, de esquilos?”

Não encontrei qualquer dado referente à identificação do(a) tradutor(a). Mas não é só por isso que estou impedida de o(a) insultar; a verdade é que a minha afabilidade é superior a mim e eu gosto, de tradutores.

Fica uma tira do Fox Trot para animar.