Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Sobre o casamento - Uma opinião

"De facto, há cada vez mais rupturas e separações que mostram que o modelo de casamento tradicional funciona cada vez menos. Porquê?

A primeira falha é as pessoas acreditarem, vá lá saber-se porquê, que a felicidade está no casamento, e que o casamento é amor, paixão, intensidade sexual, etc. As relações sociais em geral são importantes, mas não estão marcadas por tanta rigidez como o casamento. O casamento tem associada a sexualidade e a procriação, indispensável nesse guião estereotipado da felicidade. E, no entanto, há pessoas que vivem juntas durante muito tempo, como os irmãos ou amigos, com uma vida frequentemente mais satisfatória do que no casamento.

O que torna a relação a dois, frequentemente, tão difícil?O facto de no casamento não só se procurar a felicidade como o amor. Ora o que é isso do amor? Está ligado à sexualidade? À procriação? À amizade? Ao respeito? Provavelmente a um pouco de tudo...O que é mais importante? A sexualidade? Eu diria que não, de todo. A paixão frequentemente associada à sexualidade é uma emoção que facilmente se torna exagerada, que é pouco razoável, e que só prejudica a relação. Uma relação prolongada no tempo, muito próxima, com bons e maus momentos, tem que ser negociada, renegociada, a todo o momento.

Diria que os aspectos mais importantes são o respeito e a amizade. Reconhecer que a razão que o outro tem tem o mesmo valor que a nossa razão, ser capaz de ceder e de exigir em simultâneo; ter expectativas sobre o futuro compatíveis; partilhar o mundo, gostar de coisas parecidas, desejar férias em sítios semelhantes, comidas, programas, etc., que facilitem ser feitos a dois, não só hoje, quando casam, mas que se possa adaptar ao evoluir da relação nos 50 anos seguintes."

Excerto de uma entrevista ao psicólogo José Luís Pais Ribeiro publicada no Público de ontem (Caderno P2).