Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Histórias da minha avó (2)

Tinha a minha coreografia muito própria para descer as escadas do prédio da minha avó. Descia cada lance a trote e, quando faltavam uns quatro degraus, saltava com grande convicção para o patamar. Um daqueles saltos destinados a abanar o prédio.

Certo dia, após um destes saltos acrobáticos, ouviu-se um estrondo de estilhaços no piso de baixo. Ainda ninguém tinha percebido o que tinha acontecido e já a minha avó me tinha conduzido a mim e à minha irmã, através dos destroços do candeeiro do hall do rés-do-chão, para fora do prédio. Voltou para dentro, onde estava o meu avô – bem sabendo que o seu papel era apenas o de não dizer nem fazer nada -, e aguardou um momento até que aparecesse a porteira, atraída pelo barulho. A Dona Cesaltina desfez-se em desculpas e ficou mesmo convencida que os meus avós tinham escapado por um triz ao inexplicável impulso assassino de um globo de vidro voador.