Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

terça-feira, 19 de outubro de 2004

Em casa d’avó

A casa dos avós foi, durante muitos anos, a nossa segunda casa e, não sei porquê, chamávamos-lhe (e chamamos-lhe) apenas a “casa da avó”. Talvez fosse porque a avó estava lá sempre e o avô chegava só à noite, com o Diário de Lisboa que eu agarrava muito depressa para ler a tira.

Em casa da avó tomava-se água com açúcar ao levantar de manhã. Devia ser um hábito antigo. Nunca ouvi falar disto noutro sítio que não fosse em casa da avó. Seria uma espécie de cafeína para crianças? A avó não tinha medo de miúdos cheios de energia. Até porque, em casa da avó, bebia-se gemada depois da sesta. Nunca bebi gemada noutro lado que não em casa da avó.

Outra coisa: no inverno, a avó passava o ferro de engomar na nossa cama antes de nos deitarmos, para ficarmos bem quentinhas. Lembras-te? E depois ficava encostada à cómoda a contar histórias divertidas de tios e primos que não conhecíamos, e ria-se muito.

Ontem estive várias horas em casa da avó a ver, a comentar e a escolher mais fotografias antigas; a ouvir muitas histórias. Daí que.