O Jornal de Letras
A história já é do Verão do ano passado. Estávamos de férias, na hora do jornal na esplanada mas ao nosso lado estava um quarteto imperdível, sobretudo porque abusava dos decibéis o que dificultava muito a leitura. Assim, recostei-me na cadeira e resolvi apreciar o espectáculo da vida.
Tínhamos a mãe com quarenta e tal anos, a filha com perto de vinte, a amiga da filha com a mesma idade e um senhor de bigode que não disse uma palavra que se ouvisse, embora tenha falado uma vez por outra. A filha queria ser actriz e até já teria participado em alguns espectáculos, a mãe tinha um rol interminável de conselhos a dar sobre a vida artística e a amiga queria ser amiga de uma actriz.
O primeiro tema referia-se a um desaire que levou a que aquela viagem a Tavira tivesse sido em vão. Mãe e filha lamentavam-se de ter tomado a decisão errada naquele fim-de-semana de calor pois, caso contrário, em vez de sentadas no café em frente ao Gilão, estariam naquele momento no Fórum Montijo. O segundo tema, comentado com um misto de escândalo e gozo, tinha a ver com um mini-festival que teria lugar no Norte do país não fosse ter sido cancelado porque a organização fugiu com o dinheiro dos bilhetes.
Entretanto, a filha atende o telefone e ficamos todos calados a tentar descortinar o que estava a ser dito do lado de lá. Não perdemos por esperar, depois de desligar foi-nos tudo relatado detalhadamente: fulano estava eufórico porque tinha recebido uma boa crítica na peça de teatro em que se estreava.
“Onde é que saiu a crítica?” Pergunta a mãe, provavelmente a pensar que ainda ia ao quiosque, tendo em conta que se tratava de um amigo da filha. “No JL”, foi a resposta. No jota éle. Ah, isto nem na melhor ficção. Que grande reviravolta. Quem diria que o JL ainda viria a ser mencionado nesta conversa? Ninguém. Até que,
“O que é isso do JL?” pergunta a mãe. “Não sei”, responde a filha, “deve ser um desses gratuitos que há em Lisboa”.
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