Borda fora
Costumo andar de trincha na mão a pintar o mundo de cor-de-rosa. A olhar para o lado bonito da vida, para a metade cheia do copo, para o que as pessoas têm de melhor para dar.
De uma forma inconscientemente obstinada.
De tal modo que, a partir do momento em que me envolvo afectivamente com alguém, se torna muito difícil desfazer o nó, mesmo que a pessoa em causa me esteja a causar sofrimento, intencionalmente ou não.
Em vez de identificar rapidamente o perigo e reagir - agredindo ou afastando-me - opto por procurar e encontrar nessa pessoa um bocadinho qualquer menos mau que depois serve de justificação para (quase) tudo.
Esta é, se calhar, a razão pela qual andei a guardar durante demasiado tempo uma série de esqueletos no armário.
Claro que a maior parte das ossadas até não é intrinsecamente má mas fez-me mal, o que - sejamos pragmáticos - vai dar ao mesmo.
Só há pouco tempo é que me apercebi dos efeitos perversos desta maneira de fazer as coisas quando, não aguentando mais o peso da mobília, se tornou imperioso aliviar a carga.
Obriguei-me a olhar para essas pessoas que eu mantinha fechadas dentro de mim com outros olhos e logo topei uma série de coisas desagradáveis.
Durante uns quantos meses, vi o meu mundo com outras cores. E quando, farta de o ver assim, queria parar para descansar, logo, logo - coincidentemente ou não - uma pessoa imprestável (com quem tive de conviver por dever de ofício) me fazia lembrar a urgência da tarefa que tinha entre as mãos.
Hoje sinto-me a andar para a frente. Num sentido qualquer. Adiante.
2 Comments:
Parabéns por este post.
De facto, existem "palavras que nos beijam como se tivessem nome" que é, como quem diz, que se "vestem em nós".
Muito obrigada.
P.S. - Continuo com um brilhozinho nos olhos e a sorrir... Vou voltar a ler este post pela 5.ª vez!
Abraços.
Muito obrigada. Apesar de ter escrito em tom de desabafo(como acontece quase sempre) é reconfortante saber que o que escrevemos fez sentido a mais alguém.
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