Filmes (1/15)
O Menino Selvagem (1970, François Truffaut)
O filme fazia parte do plano de formação das crianças estabelecido pela minha mãe. Assim, quando aos meus 9 ou 10 anos surgiu na programação televisiva, ficou logo marcado um serão familiar para o vermos em conjunto. Só o voltei a ver há três anos atrás quando comprei o DVD e, no entanto, conseguia reproduzir todos os detalhes da história apenas baseada naquela primeira vez que o vi.
Fui apanhada desprevenida. Foi bastante penoso assistir, com aquela idade e talvez por causa de antecedentes biográficos, a um filme que acompanha o processo de educação de uma criança sem as regras. Fiquei atrapalhada, até envergonhada, com a perturbação que o filme me causava e aproveitei os vários intervalos para ir disfarçadamente despejar umas lágrimas à casa-de-banho.
Na cena que mais me marcou, o “cientista“ pretendia apurar se a criança reconhecia a diferença entre o justo e o injusto. Para isso decide punir o miúdo quando ele se estava a portar bem. A criança, ao ser arrastada para o quarto escuro sem razão nenhuma, revolta-se, esperneia e grita. Então, o professor tira-o do castigo e fica todo satisfeito porque o miúdo sabe reagir à injustiça.
Neste momento da história, eu estava pronta para estrafegar o senhor professor. Pus-me no lugar do miúdo e concluí que eu não teria reagido. Vislumbrei (acertadamente) um futuro angustiante de submissão a uma série de injustiças. E decidi que o professor estava errado: que não era a criança que tinha de reagir à injustiça, era o adulto que tinha de agir correctamente. Não aprendi nada mas fiquei preparada para o pior.
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