Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

domingo, 27 de abril de 2008

Retrospectiva (e vice-versa)


A avó Soledade em primeiro plano.
Fortaleza da Praia da Rocha, Algarve.
10-02-1964 (2ª feira de Carnaval)

A avó Soledade tinha uma expressão que era “mais vale perder um amigo do que uma resposta pronta”. [Ó mãe, devia ser ao contrário!] Não, não, era assim mesmo. A tua bisavó era tramada.

Uma das minhas resoluções de ano novo foi a de aligeirar a tendência para a ironia, abrandar no sarcasmo, resistir à resposta mordaz. Não tem sido fácil, estou sempre a apanhar-me em falta, mas começo a aperceber-me de algumas vantagens em falar a sério e que isso não significa uma conversa sisuda.

De qualquer forma, é difícil. Então se entrarmos no campo do interesse romântico é o sufoco. Pois se a minha única táctica amorosa sempre foi o gozo descarado, a piada quase ofensiva que, inexplicavelmente, a maioria dos visados considera mesmo ofensiva. Tratá-los como réus que é preciso entalar*. Deve ser uma espécie de prova de resistência, se aguentares isto estás apto. Devo dizer em defesa da táctica que, nos casos em que não a adoptei logo de início, veio a verificar-se, meses mais tarde, que não estavam aptos. E esta história de “meses mais tarde” pode ser desagradável (não quer dizer que tenha sido, visto daqui, enfim, a verdade é que aleija um bocado).

Entretanto, este fim-de-semana, a minha mãe deu-me a conhecer a citada pérola de sabedoria da minha bisavó. Dei-me uma pancadinha nas costas. Com esta herança genética, é natural que a tarefa seja complicada. É capaz até de ser trabalho para vários anos.