Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

E espero que o sim ganhe

Há uns anos assisti ao adiamento de um julgamento num processo-crime por aborto. Eu estava na sala por outro assunto e, antes de perceber do que estavam a falar, comecei por notar os constrangimentos que se instalaram. A juíza que não queria marcar data (“pode ser que as coisas mudem...”), o magistrado do Ministério Público que enfiou a cabeça nos papéis, e o advogado que apenas queria assegurar que a nova data não sairia para a comunicação social (“elas não querem ser faladas...”). Foi adiado sine die.

Porquê? Porque não existe ânimo jurídico para julgar criminalmente aquela conduta. Porque aquela conduta não pode ser valorada sem enormes subjectividades que distorcem tudo. Porque não é crime.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este é um dos poucos temas que me tira do sério...talvez o único em que sinto vontade de ter alguma militância. Porque me revolta a distorção no debate...porque me revolta a gigantesca hipocrisia...porque parece que os defensores do sim, estariam a obrigar os defensores do não, a ir abortar...
É uma escolha íntima, solitária e dolorosa, psicologicamente.Para as que têm menos sorte, pode custar a saúde, a vida ou, se a lei fosse aplicada, a prisão.
É um debate velho, serôdio, podre. A França, para dar um exemplo que conheço bem, há mais de vinte cinco anos, que encerrou a questão. Já nessa altura era feito o chamado IVG era feito, com alguns requisitos, nos hospitais públicos, como questão de saúde pública que é, com consultas de planeamento familiar e aconselhamento psicológico...para que um azar não se repetisse.
Se não pudessem falar as mulheres que já estiveram nessa situação, as que ajudaram alguém nessa situação, os homens que incitaram, constrangeram, financiaram ou simplesmente apoiaram, uma mulher face à dificil escolha, não haveria debate, porque não haveria ninguém para debater.
Ou talvez não...talvez houvesse meia dúzia de famílias, estáveis e favorecidas, a quem esse problema, nunca lhes bateu à porta. Mas não lhes ensinou Cristo, que não se deve lançar a pedra?!

7:00 da tarde  
Blogger MANHENTE said...

Obviamente!

O seu texto é tão claro que faria melhor pela causa do que muitos "slogans" de campanha.

Parabéns!

Rui

12:12 da manhã  
Blogger Momentos said...

Que não seja constrangimentos de um tribunal a justificar a mudança da lei.
As consciências é que devem decidir.

8:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Concordo. Este texto fará muito mais pela despenalização que todos os cartazes até agora publicados!
E claro que o constragimento do tribunal é relevante, quando é de uma lei penal que estamos a falar.Ou as leis existem para serem ignoradas? Servem só para sossegarem consciências atormentadas?

2:51 da tarde  

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