Nunca é tarde
Pode parecer estranho mas não deixa de ser verdade: o meu colega de gabinete é o meu avô materno. Um senhor de setenta e cinco anos, que eu não conhecia assim tão bem até o destino ou a minha mãe (como preferirem) nos ter juntado, há cerca de dois meses.
Ao princípio, não achei que esta originalidade fosse resultar mas desde que começámos a trabalhar, ele não pára de me surpreender com a sua postura profissional, com o seu companheirismo e a sua sinceridade.
Gostei de o ouvir reconhecer que ficou a perder pelo facto de não ter começado a dar-se connosco mais cedo (comigo e com a minha irmã do meio). De facto, desde que ele se separou da minha avó há mais de trinta anos e constituiu família com outra pessoa, que o convívio com as netas se resumia ao dia de Natal.
Durante este tempo todo, eu sabia do meu avô o que a minha mãe contava dele. Ela falava-nos com orgulho e emoção de um pai fantástico, com muitas qualidades e uma vida plena. E eu até aderia a esta versão mas com alguma pena e ressentimento, pelo facto de ele nunca ter manifestado o desejo de nos querer conhecer melhor.
Hoje, vejo-o todos os dias, partilho as suas histórias com gosto, delicio-me a ouvi-lo falar sobre música, discuto com ele a minha visão do ser humano e do mundo e recebo com carinho os beijos que ele faz absoluta questão de nos dar sempre que chega ao escritório.
Foi preciso ele ter ultrapassado os setenta e eu, os trinta, para nos (re)descobrirmos. É certo que terá sido tarde mas, felizmente, não foi nunca.
1 Comments:
que bom! agora não tardes em aproximá-lo do teu filho.
bjs
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