Vida de mãe - episódio 36
Desde há uns dias para cá que o assunto da ida para a praia com a escola tem sido falado, nomeadamente no que respeita ao facto de termos de chegar imperativamente às oito e quarto da manhã, sob pena de perdermos a carrinha que parte quinze minutos mais tarde, sem apelo nem agravo para ninguém.
Contudo, ontem à noite, não fui previdente e o meu filho acabou por se deitar à hora do costume. É claro que hoje, o miúdo nem sequer se mexeu quando o quis acordar por volta das sete e meia da manhã. Abri os estores e comecei a falar com ele carinhosamente, mas sem sucesso nenhum.
Deixei-o dormir um pouco mais mas a folga de tempo evaporou-se rapidamente e passou a ser necessário recorrer a métodos mais radicais: falei mais alto, tirei-lhe o lençol de cima e comecei a despir-lhe o pijama. Ele não achou piada nenhuma e gritou furioso que ainda estava cansado, que queria muito dormir e não se ia levantar já. Drama.
Apesar dos seus protestos, lá o consegui vestir e arrastá-lo para a casa-de-banho, recorrendo a uma chantagem infame, do tipo “Queres perder a carrinha? Queres ficar na escola sem os teus amigos?”. Depois, perguntei-lhe se queria comer um iogurte, ele disse que sim mas quando lhe pus o dito à frente, afinal já não lhe apetecia. Raiva. Obriguei-o a comer umas cinco ou seis colheradas que ele engoliu a contra gosto. Calçámo-nos à pressa e saímos de casa em cima da hora, comigo a dar um sermão e o meu filho a ouvir em silêncio. Desisti.
Respirei fundo, fiz figas para não apanhar trânsito, mudei de assunto e de tom para que o trajecto até à escola nos permitisse acabar bem o que tinha começado mal. Apesar dos meus esforços, o miúdo continuava calado. Perguntei-lhe então em que é que ele estava a pensar e ele respondeu-me baixinho: ”Estava a pensar que tinha de te pedir desculpa”. Ao ouvir este surpreendente desabafo, senti um aperto no meu coração de mãe impaciente e stressada.
Felizmente que acabámos por chegar ao nosso destino com o tempo e a calma suficientes para trocarmos mais umas palavras e darmos um grande abraço conciliador.
4 Comments:
Ás vezes as Mães tem de fazer um papel de megeras. Então para acordar o pessoal eu faço e digo coisas muito chatas. Cansa-me tanto todos os dias de manhã a mesma lenga lenga. Enfim ser Mãe é muito complicado. Tens a minha compreenção. Beijos
Eu não sou mãe e tb senti. Isso e uma lágrima no canto do olho. :-)
Irra, eu nem mulher sou e também senti. :)
That's a great story. Waiting for more. »
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