A mulher mais bonita
«Hoje acontece dizerem-me: ‘Tu eras a mulher mais bonita de Lisboa...’. Mas nunca, nessa altura, me diziam: ‘Tu és a mulher mais bonita de Lisboa’.» [Maria Filomena Mónica, NS de 25 de Março de 2006]
Fez-me lembrar a minha irmã, irritada porque sempre que elogiava uma certa mulher muito bonita lhe respondiam “...para a idade”. Raios, disse-me, é uma mulher muito bonita ponto.
Outra coisa que me chamou a atenção nesta afirmação de Maria Filomena Mónica foi o “nunca”: nunca lhe diziam “Tu és a mulher mais bonita de Lisboa”. Isto não é o mesmo que afirmar que nunca lho disseram de todo, mas é estranho, ainda assim. Será que só se dava (e dá) com gente fraca e insegura? A própria circunstância de lhe falarem agora sobre o que foi antes, e portanto já não é, indicia isso mesmo.
Há uma certa fixação, descabida na minha opinião, em usar de objectividade quando se admira a beleza. Como se, de imediato, se fosse ser submetido a uma avaliação minuciosa dos critérios aplicados. E todos querem ser considerados como tendo os padrões mais elevados e exigentes.
Há também, parece-me, um receio de ficar diminuído ao manifestar admiração pela beleza alheia, que não seja a beleza estereotipada e conforme com todos os cânones vigentes. A hesitação e o esforço absurdo de racionalização só surgem perante o elogio aberto da beleza imperfeita, aquela que nos está mais próxima, que quase podia ser nossa e não é. É a assumida admiração por essa beleza que muitos sentem que os poderia apoucar. E o que realmente os apouca é esse sentimento de inferioridade convertido em sobranceria.
1 Comments:
Muito bem.
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