Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

Um excerto da mais pirosa prosa futebolística ou será que é mesmo assim?

Foi a maior fábrica de sonhos do século XX, o Benfica. Só mesmo o Benfica. O Benfica a relativizar o conceito de craque. Vulgarizar até. Para bancadas vestidas de gente, gente ululante, gente regalada, com cio de bola, num olhar de gente continuadamente infantil à locomotiva vermelha, transporte seguro e pundunoroso de outra gente, gente que soprou talento, gente de exibições sobrenaturais, gente que rubricou momentos ferozmente bons, gente que soprou talento, gente com suplemento de garra, gente da gente, só da gente. Gente muita houve para quem o dia nasceu contente. Gente que tanta vez enganou a fome com a bola. Gente apaixonada pelas belas aguarelas. Gente do Benfica. E aquela gente, demasiado divina em campo? A crispar os sentidos, a obsidiar a inglória. Num tributo aos novos e aos velhos, aos plebeus e aos aristocratas, aos iletrados e aos eruditos. A todos, a todos os missionários da crença vermelha.

Foram Eusébio ou Coluna. Como antes Francisco Ferreira ou Rogério. Antes ainda, Vitor Silva ou Espírito Santo. Mais tarde, Humberto Coelho ou Chalana. Agora, Simão Sabrosa ou Nuno Gomes. Foram as chuteiras mágicas. O carisma magnético. As conquistas avassaladoras. Os artistas da bola, os poetas do jogo, os heróis do povo.

Cem jogadores para cem anos de história. Sem renitência e sem temor. Também sem esforço mas talvez com pecado, pequeno que seja, mas sempre pecado. Não há, não pode haver, duas escolhas iguais. Esta é a minha, alicerçada em muitas horas de leitura das escrituras garridas, no saldo das tertúlias berrantes, na observação directa das façanhas rubras. Não é, longe disso, um trabalho magno mas é, imodestamente, um trabalho que não há, não havia. Nesta como noutras (poucas) ocasiões, não resisto a reputar a obra como um acto de megalografia. Em virtude, tão-somente, do jaez dos biografados. E se o adjectivo é a prosa a tomar partido, no entendimento do mestre e amigo Baptista-Bastos, fica a advertência para a prosa adjectivada que se segue. Afinal, no desfile de gente imorredoura, de gente enorme, na concepção de benfiquismo, de portugalidade. Com uma dedicatória sentida ao Centenário. Ao povo vermelho. Ao Benfica.

Introdução do livro "Memorial Benfica 100 Glórias" - João Malheiro

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Resposta: é mesmo assim!

3:06 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home