Setembro
Deve ter sido depois de eu ter dito que quando fosse grande queria trabalhar na Compasso, a dar o troco e a fazer embrulhos. Teria uns cinco ou seis anos de idade e, ao deitar, a minha mãe vinha falar-me das profissões que existiam e em que é que consistiam.
Na altura, eu devia achar que o mundo estava organizado, que havia serviços que organizavam a vida das pessoas, que alguém geria o que é que cada um fazia. Creio que era isto que eu achava mas o que recordo é o diálogo que surgiu quando perguntei à minha mãe: “Uma pessoa que queira ser ladrão é logo presa ou deixam-na primeiro ser ladrão e depois é que a prendem?”. Ignorando a “profissão” escolhida para a pergunta, a minha mãe tentou averiguar o enquadramento que eu estaria a dar a informação que ela me transmitia: “Deixam? Quem é que deixa?”. Não me fiz rogada: “A pessoa a quem vamos dizer o que queremos fazer!”. Ela “Mas qual pessoa?”. Eu “A pessoa ao balcão!”. A conversa terá então sido adiada para uma idade mais apropriada, tipo dezasseis anos.
Lembrei-me disto hoje porque estou menos conformada do que há uma semana atrás, quando regressei de férias. O mundo está organizado, sim senhor, mas é uma organização maquiavélica que nos faz crer que foi de livre e espontânea vontade que viemos parar à roda do hamster*.
*Fui ao Google apurar se existiria nome técnico para a roda do hamster e encontrei isto. Vou ler depois que agora já não tenho tempo.
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