Serendipity

The laws of chance, strange as it seems,
Take us exactly where we most likely need to be
[David Byrne]

sábado, 9 de abril de 2005

Evento comemorativo (1)

[postado a 27 de Novembro de 2003 no A Causa Foi Modificada]

Fui, mais uma vez, ao É a Cultura Estupido!

Estava caseirinho, o lugar. O Nuno Miguel Guedes sentou-se ao meu lado e nem me reconheceu (falei com ele, uma vez, há dois meses ou três, durante 3 minutos, num sitio às escuras, e ele não me reconheceu... que escândalo!!), e não quis incomodá-lo com as minhas preocupações do momento: em 1811, um bando de ingleses, dinamarqueses e alemães avassalou-se ao Templo de Bassae, situado não longe de Atenas e, segundo Pausânias, erigido sob a batuta do mesmo arquitecto do Partenon. À chegada ao Pireu cruzaram-se com o último dos carregamentos do Lord Elgin (bem dito seja!) direito a uma ilha que agora não lembro o nome, em cujo cargueiro fazia a viagem de volta um tal de Byron, o gajo que falou mal dos portugueses, e de quem Sintra tem a mania de se orgulhar, vá lá saber-se por quê.

(...)

As comemorações prosseguiram com o embate decidido à partida entre o Daniel Oliveira e o Pedro Lomba: tudo aquilo em que o primeiro é bom o segundo é mau. E tudo em que o segundo é bom, não interessa para nada quando se fala de debates perante uma audiência. O primeiro sabe falar, argumenta e desargumenta numa velocidade alucinante, projecta maravilhosamente a voz, tem uma dicção maria-callense, posiciona-se perante a plateia de maneira absolutamente irrepreensível e está constantemente a cortar os argumentos que lhe podem ser prejudiciais com piadas dirigidas à plateia, plateia essa, já de si, previamente favorável a ele.

Tudo isto é muito bonito e está muito bem, mas não lhe dá razão, apesar de ter feito o Pedro Lomba em carne picada. O Daniel insistia num tipo de discurso que é lamentável e que ninguém se preocupou em tentar rebater: dizia ele, ao nomear uma série de escândalos evidentes nas relações entre o poder económico e o poder político, que "os portugueses" tinham que ser protegidos contra isto, que "os portugueses" assim perdiam confiança na classe política, etc, "os portugueses", etc, etc. Ora, será que os senhores que fazem estas falcatruas de que ele se queixa são marroquinos? Desconfio que não. O senhor que passou directamente da assinatura do contracto entre o Amadora-Sintra para a admnistração do Grupo Mello era lituano? Não creio.

(...)

No café do senhor João, onde bebo a bica todos os dias, a máquina registadora marca 45 cêntimos quer eu beba uma bica que custa os tais 45 cêntimos, quer eu compre dez quilos de broas de milho, que me custam 55 euros. Este problema, que só a miopia impedirá ver como absolutamente generalizado por Portugal inteiro, não é qualitativamente diferente dos problemas que tanto preocupam o Daniel Oliveira e os seus amigos.

Só que são mais desagradáveis de nomear, principalmente quando se tem uma plateia a conquistar!

maradona (com minúscula);13:57