A viagem (4)
A música foi das coisas mais importantes que me aconteceu, também nesta viagem. Não levámos o “Fungágá” nem o “Joana come a papa” ou o “hei, Vickie, hei”. Era só música de crescidos e em estrangeiro.
Os álbuns que foram gravados em cassetes para a viagem eram, na sua maioria, aquilo que se chama (acho eu que se chama) “álbuns conceptuais”, supondo que se chamam assim os álbuns que contam uma história na qual as diferentes músicas são episódios. É o caso de “Foreigner Suite”, do Cat Stevens; de “Days of the Future Passed”, dos Moody Blues; e – my personal favourite – “Megalopolis”, do Herbert Pagani. As óperas rock “Tommy”, “Jesus Christ Superstar” e “Evita” faziam igualmente parte da play list. O desenrolar das diferentes histórias foi-me detalhadamente descrito, em tradução simultânea, na primeira audição. Era como estar a assistir a um filme. Lembro-me de contestar as posições adoptadas pelas “personagens” como se me pudessem ouvir e assim contrariar os rumos mais trágicos das suas histórias.
Fizeram ainda parte da selecção musical a Melanie Safka (outra que ficou favorita), os Rolling Stones, o Elton John e outros.
Ao longo de um mês, ouvimos as mesmas músicas vezes sem conta. Tentei fazer as contas por alto mas só dá para dizer que foram muitas muitas muitas vezes que ouvimos cada mesma música. Se calhar a melhor forma de o transmitir é contar que, apesar dos meus 8 anos, fiquei a saber as letras de cor. Não falava inglês nem francês mas conhecia as histórias e sabia cantar cada música do princípio ao fim. Passámos muitas horas a andar de carro durante este mês.
Agora tenho a maior parte daqueles discos e só os consigo ouvir no carro.
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